30.10.12

Sentimento sem nome

De tantos sentimentos sem nome,
um pelo sorriso amarelo se encantou.
Fez: poemas, serestas e versos.
Para nada se importou.
Andou, sorrio, passou.
Pobre de meu sentimento.
Sentiu tanto e sentiu errado. 

Aquela

Sou aquela de pensamentos longes.
Olhos fundos.
Boca seca.

Cabelos ao vento.
Mutilada por dentro!

Tenho mais de mil sorrisos.
Mas choro, só tenho um.
Choro quieto,
triste, cansado.

29.10.12

Não me arrisco

Me escondo atrás do copo de cerveja,
e da fumaça do tabaco.
Saio trocando as pernas,
meio tortas, assim de lado.
Caio em braços errados.
Sinto a frieza do chão.
Não há risco. 
Não me arrisco.
Escolho a dedo!

Bêbada, nua e cansada

Não tem mais oque fazer.
O dia chegou.
O samba acabou. 
A taça caiu.
Você se vestiu.
Oque ficou, fui eu:
Bêbada, nua e cansada.
Mesmo assim, não durmo.
Reparo em tudo.
Não ligo pra nada.


Janela

Fecho cortinas e janelas.
Me tranco.
Me resguardo.
Mofo.
Não quero saber oque tem do lado de fora.
Minhas fraquezas, manias e tormentos,
Já me servem bem.
A dor dos outros só aumentaria meu tormento.

28.10.12

Mal

Me causo um mal danado.
Alguns dizem que é o cigarro.
Outros, que é a bebida.
Já eu digo que não é nada de fora.
Vem tudo de dentro.
Não é um copo de cachaça.
ou um trago de cigarro.
Oque me faz mal é oque sinto,
oque carrego, oque suporto!

Cá dentro

Meu olhar perdido.
Meu cabelo desgrenhado.
Minha face amaçada.
Meu cigarro de lado.
Descuido? 
Talvez.
Ninguém sabe oque passei. 
Oque senti.
Oque vivi.
Está tudo cá dentro de mim.
Tatuado, marcado, grafitado, queimado!

Menina guardanapo

Me distraio com a conversa do moço.
Me perco em pensamentos alheios.
Anoto oque penso num pedaço de guardanapo.
As vezes são coisas medonhas.
Putaria barata, amor de carnaval.
tragédia grega, comédia medieval.
Tudo jogo no papal.
Papel amaçado, indigno, mal amado.
O guardanapo marcado se parece tanto comigo.
Tem meus pensamentos dementes.
Minha vida descontente.
Meu riso de dor.
É isso, sou menina.
Menina de papel.
Menina guardanapo!

Me destruo, te construo

Conturbada e louca.
Misturo minhas doenças com as tuas.
Na tentativa de te ajudar, te mimar, te consolar.
Não acompanho tua mudança constante. 
Coloco tuas doenças na frente das minhas. 
Te trato e me mal trato.
Estou doída por dentro.
Teus problemas se cravaram em mim.
Você pouco se importa. 
Nem ao menos nota.
Planto beijos cor de rosa e todo canto.
Me viro do avesso.
Me faço tua menina. 
Meu tratamento é te tratar.
Me destruo, te construo!

Me bebo

Se o amor me procurar, diga que sumi.
Me escondo no fundo do bar.
fujo do cio.
Se insistir em me procurar.
Afogo-me num copo de bêbado.
Me desmancho feito cubo de gelo.
Cubro-me com whisky barato.
Viro o copo. 
Me embriago.
Me bebo.
Acabo!


Doce e ofegante suspiro

As pontas de meus cabelos molhados,
pigam em teu peito magro e marcado.
Marcado com meus lábios,
meu sexo,
meu corpo.
O meu cheiro de baunilha impregnou todo teu corpo.
Minhas unhas ainda estão cravadas em tuas costas.
Os pelos de taus pernas ainda me arrepiam.
Nossas respirações ofegantes se misturam.
Ficam leves,
e se acabam, em um doce suspiro.

26.10.12

Sabiá

Relaxe meu bem.
É primavera.
Logo aparece um sabiá no cio,
pra cantar na tua janela.

Ler

Lê, ler, reler.
Literatura é cura.
Cura da mente.
Cura da alma.
Alma que: chama, pena e clama.
Pede leite. 
Pede leitura.
Leitura orenda, violenta, em chamas.
Ler é fogo.
Fogo de ponta de cigarro.
Acende, traga, acaba.
Quando já está no fim,
se traga com ainda mais vontade.
Vontade de um fim.
Para só assim, acender um novo.

25.10.12

Doce beata

Beata também é mulher.
Sente calor em baixo da saia.
Chamas por todo o corpo.
Malilos exitados.
Pimenta nos lábios.
Em teus sonhos ocultos:
Sente mãos por todo o corpo.
Pernas que roçam em pelos.
Salivas em seios.
Pobre beata, 
tudo sonha,
nada realiza.

24.10.12

Viajante

Seja sua própria bússola.
Se deixe levar pela ventania.
Faça do teu coração um novo ponto cardeal. 
Se perca na multidão.
Faça do mundo um pequeno acalento.
Siga teu rumo inexistente.
Corra perigo. 
Aprecie flores e pedras.
E se por descuido se arrepender:
Olhe para o horizonte!

23.10.12

Olheiras

Estes meus olhos fundos.
Cansados, parados, pacatos.
Castanhos por dentro.
Roxos por fora. 
Não é superficial.
Vem de dentro.
Vem da alma!

22.10.12

Flamenco

O violeiro toca el toro.
A moça com a rosa no cabelo nem repara.
Vira o rosto, faz pouco caso.
Nem nota as batidas fortes.
As debulhadas desesperadas.
A boca tremula.
O suor na testa.
Nada ela vê. 
É seca feito pau torcido.
Lábios carnudos e vermelhos 
que só servem para beber.

21.10.12

Infinito?

Ouço o sopro forte do vento.
As vezes me espanto
e as vezes, só reparo.
Sinto o gosto amargo do cigarro.
Me entristeço, me aborreço.
Olho para o vidro da janela,
e sinto que posso enxergar o infinito.
Infinito que pode ser visto por olhos nus.
Nudez de meu doce e cru infinito!

20.10.12

Tudo, menos o mundo

O moço de fala mansa.
Gosto doce de jabuticaba.
Olhos vivos, cor de amêndoa. 
E cabelos negros feito asas de graúna.
Me plantou um beijo.
Me fez um dengo.
Me deu  uma uma flor.
Reclamou da vida.
Indagou sobre morte. 
Profetizou sobre o amor.
Moço triste, carente, matuto.
Quer de tudo, menos o mundo.

19.10.12

Flores e fronhas

Nem tudo é feito de bons sentimentos.
Não é todo verso que fala de amor.
Solidão, sofrimento, tristeza.
Os maiores aliados do poeta.
Ser poetisa é isso:
Saber brincar com própria desgraça.
Sorrir entre flores.
Chorar entre fronhas!

18.10.12

Doce alfazema

A moça do campo, se contagia com o doce cheirinho de alfazema.
Sua amargura se perde na suavidade do campo lilás.
O sopro forte do vento, se encontra com a brisa doce das alfazemas.
O que era ventania, agora é sopro leve e delicado.
Delicadeza que se compara com a finura das mãos da moça.
Moça que colhe a beleza lilás para faze arranjos florais.
Pobre moça, não sabe que arranjos são feitos com flores mortas.
Matar uma flor para doar a um suposto amor.
Amor de primavera se acaba no fim da estação.
O que fica é o cheiro bom.
Cheiro doce. 
Cheiro de flor!

17.10.12

Fadigada alma

Corpo cansado, entregue ao desanimo.
Enfadado por arrastar o peso do sonho morto.
Sonho cheio de caricias.
Caricias que nunca tocaram um corpo.
Mero carinho de sonho.

Sonho que morreu no soluço do desalento.
O corpo já não resiste, vai sucumbindo.
Não aguenta mais tamanho peso.

A paz de um simples viver.
Tornou-se hábito mórbido, sem emoção.
Fadigada da espera a alma reclama.
E de tanto que reclama, desiste.

Já não existe mais a  vontade de reagir e lutar.
Pois sonho morto, é apenas peso a ser arrastado,
por um corpo já cansado!

16.10.12

Cravo

No jardim de uma doce senhora, nasceu um cravo.
Vermelho sangue.
Com perfume doce e ainda sim forte.
A jovem neta que pouco entendia de flor 
decidiu colher o tão belo cravo.
Levou para casa para esperar seu amado.
O cravo esperou tanto, 
que perdeu o doce aroma de flor.
Ficou velho, miúdo, murcho e sem cor.
Tudo que restou foi o nada.
Nada de flor.
Nada de amor!


15.10.12

Tesouro de menino

Sou o menino que empina pipa na laje. 
Que passa o dia olhando para o céu.
Que pede para o vento ajudar.
Que em dias de sol dilata as pupilas.

Que tem a rabiola  mais comprido do céu.
A pipa de sete cores. 
E a linha mais forte que os raios de Zeus.

Sou  um caçador de pipas.
desço a ladeira descalço.
Pulo o muro.
E para os adultos sou um menino matuto.

Excesso

Meu excesso de manha
cai bem com sua meninice.
Menino arteiro.
Mimado.
Dengoso.
Cheio de si
faz de meu sorriso largo
une petit chanson.
Jogo minha perna sobre teu corpo.
Durmo.
Ressono!

14.10.12

Sentir e sonhar

Pernas cansadas.
Cruzadas no ar.
Entregues ao nada.
Esperando a morte chegar.

Fico a poetizar, 
em meu inferno particular.
Murmuro teu nome.
E faço uma prosa.

Prosa de fim triste,
que faz lagrimejar.
Chore tola menina,
pois ainda há de sentir e de sonhar!

13.10.12

Aroma do dia

Ainda me lembro do teu cheiro de cigarro
se misturando com meu perfume de flor.
Também me lembro de teus lábios secos 
marcados com meus lábios de carmim.
Oque mais me lembro é de teus passos.
Passos que partiram num triste fim de tarde.


Me enrolo


Deito e me enrolo.
Sinto sono,
frio
e um pouco de manha.
Ando muito só.
Durmo muito só.
O cobertor me enrola,
mas nunca me enrosca.
Tenho vontade de apagar.
Dormir por dias, semanas, meses e anos.
Talvez assim a solidão 
que fez de meu peito uma morada,
resolva se mudar!

12.10.12

Verso meu

Meus pensamentos.
Minhas manias.
Meus medos misturados com sonhos.
Meus desejos tortos.
E minhas tentativas de ser feliz.
Faço de tudo um verso.
Verso meu,
que por estranha ironia 
preenche o teu. 



11.10.12

Um novo passo de dança

Uma tarde chuvosa.
Fria, sólita e triste.
Me conformo com o sofá
e uma xícara de chá.
Penso um pouco sobre a vida.
Me sinto mal.
Mal por ficar calada, isolada, estagnada.
Decidi acabar com isso.
Larguei a xícara no sofá
e fiz do meu dia cinza,
um novo passo de dança.

9.10.12

Pitomba

Pitomba.
Olho-de-boi.
Peitinho de moça.
Vem do tupi.
Tão miúda, que nada vale.
É bofetada.
Chupada.
Tomada.
Pequena pitomba.
De madura caiu.
No solo de abriu.
E por ali floriu.

8.10.12

Um choro de solidão

De um mundo tão imenso fiz a solidão.
Sentimento gélido,  sem reação.
Choro pelos cantos.
Me calo.
Me tranco.
As vezes com choro, eu canto.
Canto baixinho.
Canto em soluços.
Soluços perdidos e entristecidos.
Triste coração.
De tão menino se empoçou.
Poças de lágrimas perdidas.
Que cantão em choco, minha triste solidão.

Farpas

Trocamos farpas por um bom tempo.
Hoje temos o coração cheio de cicatrizes.
São tantas, tão tristes.
Fomos tolos e adultos.

Nosso mais que perfeito,
se acabou em brisa.
Brisa leve que nada move.
Estagnados, baqueados
e mal amados.

Nossa mania de velhice fez isso.
Acabou com a pureza de menia.
E matou o menino viajante.
Coração não se trata com farpas.
Coração se trata com beijo e amasso.
Mas a eterna dor foi o que nos encantou!

Fogo de cancão

Se cancão ta acuando pode tratar se levantar.
Se tiver coragem corra pra cima.
Se for frouxo saía pelas beiradas.
Parado não pode ficar.
Se correu pra cima enfrente.
Arma, facão, porrete e pedra.
Quando se trata de acalmar cancão tudo vale.

7.10.12

Não é por maldade

Meu emocional anda tão fraco.
Fraco feito flor.
Nem chorar, chora mais.
Vive pelos cantos, fingindo sorriso.
Agradando alguns 
e alimentando falsos amores.
Não é por maldade.
Nem por idade.
É por medo.
Medo do desafeto.
Medo do desamor.
Medo do mundo!

4.10.12

Beco

Beco triste de paredes nuas.
Sólito, quieto.
Só gatos sem sorte
e almas largadas passam por ali.
Passam correndo.
Cheios de medo e desprezo.
Me sinto bem ao passar no beco.
Meu coração até se sente mais confortável.
Os dois compartilham da mesma solidão.
A triste solidão do beco se identifica
com meu coração!

3.10.12

Espora

Rosetas giratórias.
São estrelas cheias de histórias.
Histórias de vida.
Histórias de sangue.
Espora gasta.
Amansou muitos.
Amansou errado.
Fez doer, sangrar e sofrer.
Cavalo manso, rápido e cheio de medo.
Medo da estrela sanguinário.
Estrela de ferro.
Caiu do céu, chegou no solo.
Solo adubado com sangue.
Sangue do cavalo adestrado! 

2.10.12

Saudade arquivada

Quando falo de saudade, 
o que vem é teu nome.
Teus lábios invocados.
Tua barba por fazer.
Teu cabelo já sem corte. 
E tuas mãos.
Mãos de violeiro.
Mãos mais delicadas que nuvens!
Poderia fazer como todas.
Aprender a esquecer.
Mas minha meninice 
e minha mania de arquivista,
não permite.
Esquecer é um caminho fácil.
Prefiro me torturar com teu nome,
do que me enroscar com outros,
na tentativa numa de esquecer!

A inconstante

Vivo em uma dualidade contínua,
me sinto presa em realidades distintas...
Pois metade de mim é inconstante,
e a outra impulsiva.
Tão impulsiva que não se aguenta.
Reclama com o reflexo.
Chuta a parede.
E briga com a brisa.
Louca? Talvez.
O que sei é que sou feita de nada.
Um imenso nada, repleto de tudo!




Doces frutos














Tenho frutos doces.
Doces e maduros.
De maduros estão a apodrecer.
Podridão por falta de degustação.

Deguste, cultive mais.
Parar? Jamais! Nem descansar
Os frutos apodrecem enquanto tu lê jornais
Sentado na poltrona fingindo pensar.

Doces frutos!!
De feridas amargas.
Épocas férteis!
Porém frutas passadas.

Férteis para ferida.
Ferida crua.
Ferida nua.
Ferida sua.

Deguste o doce fruto ferido.
Ferido sem norte.
Ferido sem sorte.
Ferido sem porte.

Não degustas porque não queres?
Se não degustas o que é bom,
o que é bom vira ferida.
Não deixe ferir a mais belas das frutas

Não deixe amargar a mais doce fruta.

De uma fruta podre.
Uma simples ferida.
Todas as outras frutas...
se contaminam.

Contaminação de podridão,
um dia acaba.
Acaba em terra.
Acaba em nada!

                       (Jefferson Gonçalves e Leticia Borges)

1.10.12

Sono doado


















De tanto que dormi.
Resolvi dar um pé no sono.
Disse para procurar outros olhos.
Tratar de novas olheiras.
E cuidar de novas pupilas.
Me viro bem sem ele.
Atribulo com o gato 
em cima do telhado.
Mato baratas na escada.
Faço Chá e dou ousadia para o nada.
Sono doado é assim:
Enquanto uns dormem,
outros atribulam!

Ingratidão

Meus olhos tentaram prender o choro.
Mas não teve jeito.
Sua ingratidão fez meu pranto rolar.
Me acabei em água de sal. 
Fiz de meu quarto um mar.
Mar que um dia amou.
Amou e nunca chorou.
Hoje por desamor.
Sofreu.
Chorou.
E por fim sarou!

Hora que passa

Hora que me atenta.
Hora que atrapalha.
Passa, passa, passa.
Tudo passa.
Mas a hora é diferente.
Ela vem e me leva com ela.
Sou arrancada da terra feito flor.
Os ponteiros do relógio,
se sentem donos do mundo.
Atentam, atrapalham, passam e arrancam.
Números errados.
Ponteiros desleixados.
Tanta gente atordoada.
E a hora não diz nada.