31.1.13

Leitura

Olhos gastos.
Caídos.
Embaraçados.
Se confortam com lentes.
Lentes fracas 0,70.
Uma mão inquieta 
passa a folha do livro.
A outra abobalhada,
segura a fervura de xícara.

30.1.13

Noite e neblina

Corpos virados.
Molhados.
Caídos.

Línguas torcidas.
Mordidas.
Doídas.

Roupas no chão
Pudor na mão.
Garrafa caída.

Confete

Grito abafado.
Olhos sem cor.
As veias saltam.
A carne apodrece.
Os sentimentos se vaporizam.
A suposta alma se perde.
Se joga na vida.
Vira confete.

29.1.13

Gargalhada

Cabelo assanhado.
Choro entalado.
Sorriso arreganhado.

Me contorço.
Me atiço.
Troco as pernas.

Falo em prosa.
Beijo a testa.
Canto a vida.

28.1.13

Fada verde

Nicotina nos lábios.
Absinto no copo.
Moinhos giram.
O mundo para.
As ideias gritam.
Se atormentam.
Se excitam.
Se amparam
no vazio nu.
Inerte morto.

27.1.13

Corpos

Seios úmidos.
Lábios cortados.
Pernas bambas. 
Pelos ouriçados.
Conhaque quente.
Corpos revirados.
Torcidos.
Mal tratados.
Bem amados.
Acabados.

26.1.13

Esquecido na boca

Minha poesia rustica
Fala de um nome.
Nome fraco.
De um menino cheio de plá.
Lábios invocados.
Mãos com cheiro de cigarro.
Vadio feito carnaval.
Faz cachaça de confete.
Se joga no mormaço 
de gente moída.
É meu gole de cerveja.
Meu pedaço de samba.
Esquecido na boca.

25.1.13

Quase caída

Minhas botas sem meias.
Meu cigarro barato.
Caminho calado.
Meio de lado.
Sinto entre os dentes
um sopro de vida.
Vida rala.
Pouca.
Quase caída.


Doses e tragos

Uma dose de calor.
Um trago de vida.
Pulmões fracos. 
Peito em chamas.
Mente dolorida.

Entre a lua e a morte

Alumiada pela lua.
Me dano a escrever.
Proseio com o nada.
Acendo um cigarro.
E volto a morrer.



Sina do Sofreu

Acalentada pela chuva. 
Acordada pelo sofreu.
Pássaro de canto doente.
Triste triste. 
Se atordoa.
Acoa.
Voa.


16.1.13

Lua e encalço

Noite de encalço.
A lua da as caras.
Alumia os vaga-lumes.
Brinca de poetar.
Faz versejo.
Manda beijo.
Quer repousar. 
Ressonar.
Desamar. 

15.1.13

Menina de gêmeos

Mais uma desgraçada.
De dentes doloridos.
Guiada por estrelas aporrinhadas.
Não tem romance ou pecado.

A pureza é pouca.
O brilho, quase não se vê.
Já se fez de menina.
Já se fez de mulher.

Hoje brinca de ser senhora.
Senhora que sonha.
Reclama.
Clama.
Chora.

Mesa

Mesa barata.
Sem nada de novo.
O dia é de chuva.
O homem é de carne.
Carne estragada.
Mofada.
Acabada.

14.1.13

Desceu por necessidade

Arremessado da janela.
Em uma graciosa queda livre.
Brisa no rosto.
Sem nenhum amor.
Ou tutu.
Nada mais o preenche. 
O vento ampara.
Mas não segura. 
Tudo vibra.
Pulsa.
Acaba.
Para.

13.1.13

Bitucas e joanetes

Bitucas marcadas.
Enfileiradas no chão.

Joanetes no pé.
Cansado sem chão.

A dona das mil bitucas.
Caí na gandaia.
Se joga na vida.

A dona dos joanetes.
Sempre sofrida.
Caída.
Doída.
Só quer repousar,
na cama curtida.

12.1.13

Noite

Filete de carne entre os dentes.
Pijama molhado de vinho.
Cigarro no toco.
Noite de chuva.
Sem nada de novo.
O vinho desce seco pela garganta.
Aliciando o cigarro.
Os dentes agonizam.
Pedem paz e lábios.
Lábios alheios.
Usados.
Ressecados.

Fechados por opção

Olhos amarelos.
Vermelhos.
Amendoados.
Fechados por opção.
Sem nada de reação.
São pequenos. 
Chorosos.
Imaturos.
Não estão preparados,
para um escarro de mundo.

Avesso

Amor pelo avesso.
Das costelas para fora.
Sentimentos imaturos.
Ativistas e noturnos.
Usamos da mesma pele.
Vivemos do mesmo sangue.
Sangue que escorre.
Vaporiza.
Some.

10.1.13

Romance em trapos

Vivemos meio que de lado.
Caídos.
Bagunçados.

Andamos bêbados.
Descalquiados.
Meio apaixonados.
Quase adulterados.

Construímos um pacato caos.
Hoje, estamos calados.
Confortáveis, confortados.

9.1.13

Convite

Lhe convido para a dança.
Você meio acanhada, sorri.
Eu, torto.
tropo.
Sem chão.
Faço revelia.

Te levo para o mar.
Pé na areia.
Cintura mole.
Se contorce  á cada balanço de mar. 

Nada diz.
Apenas me beija.
Depois, sorri.

7.1.13

Rumores de uma greta

Tombada em lençóis imundos.
Olhando para a mancha no teto.
Não sinto prazer.
Sinto dor.
Não posso chorar.
Sou carne morta.
Ando bêbada.
Nua.
Torta.

6.1.13

Mansa

Olhos virados.
corpo mole.
Vida mansa.

Luz amarelada.
Psica.
Psicopata.

Palavras abertas.
Arremessadas.
Arreganhadas.

Jogadas no papel.
Fazendo da brancura.
Um belo de um bordel.

5.1.13

Cerveja e cigarro

Cerveja quente.
Cigarro aceso.
A solidão troca farpas com sono.
Sono que raramente é obedecido.

Sou de poucos amigos 
e muitas indagas.

Me critico.
Me chingo.
Depois, me calo.

4.1.13

Leve

Borboleta leve. 
Desnorteada.
Sem norte ou sorte.
Guiada pelo vento.
Cheira flores.
Beija moças.
Despreza o tempo.
Faz da pouca vida.
Um enredo.
Repleto de luz.
Flor,
e dor!

3.1.13

Rumor e osmose

Xícara de rumor.
Banho de osmose. 
Memória fraca. 
Roupa esburacada.
Nada de piedade ou sanidade.
Sem dor nem flor.
Somos sólitos.
Tristes.
Bêbados.
Loucos!

2.1.13

Contratos e prosas

Chá.
Mel.
Verso.
Prosa.

Tarde doce.
Com terceto 
e teimosia.
Sem nada de regalia.

Os ponteiros deslizam.
Os sinos batem.
As fabricas buzinam. 

Todos gritam.
Latem.
Apitam.
Nada parou.

O melado de chá, secou.
Versos e prosas se acabaram em ponto.
O que restou? 
Inúteis contratos e tratos.

1.1.13

Peneira

Memória  insana.
Safada.
mentecapta.

Faz do corpo.
Uma peneira.
Dessas de construção.

Vai peneirando, 
peneirando.
Até que só sobre areia.
Areia fininha.

Sem adulteração
ou pedrinha.