29.3.13

Ponteiros

Os olhos vazados.
As pernas tortas.
As mãos tremulas.

Os ponteiros rodam.
As ideias param.
O estômago gira.

27.3.13

Suspiros e rabiscos

Faço anotações.
Reparo teu cigarro.
Um trago.
Um suspiro.
Coisa bonita de se ver.

Penso em fazer poema.
Penso em te dar a mão.
Tento manter pose.
Sem sorrir,
ou cair no chão.

Abaixo a cabeça.
Volto para as notações.
Sem versetos ou sonetos.
Apenas suspiros
e rabiscos tortos.

26.3.13

Leve

A brisa passa entre as falhas dos dentes.
O medo, corre nos olhos marcados.
As ideias fazem festa na mente aporrinhada.

O tempo passa se arrastando.
Quase parando.
Caindo, se esturricando.

Sou arrastada pelos bons ventos.
Levada por todos os mares.
Guiada por todas as flores.

25.3.13

Incolor

Miro os olhos para o céu gesso.
Me contorço na poltrona.
Me faço de minério.
Sou gipsita.

Pedra de gesso.

Dura.
Incolor.
Sem vida,
ou sabor.

23.3.13

Sereno

Disseco-me com navalha amolada
Me divido em pedaços miúdos.
Me bordo com linha vermelha.
Faço corações, flores, meninas.
Sou beijada pela noite.
Um beijo frio,
feito sereno.
Me gela as veias.
O sangue.
A carne. 
A alma.




21.3.13

Sonolência

Os olhos apertados.
O corpo cansado.
A mente parada.

A sonolência invade.
Ampara.
Para.

A carne luta.

Bebe. 
Fuma.
Dorme.

20.3.13

Sorriso café e cigarro

Um filete de luz passa entre os dentes.
Corrói toda aquela podridão e tristezas.
Os beijos se foram.
Os lábios ficaram.
E mesmo roídos, sorri.
Um sorriso aberto.
Amarelo.
Com cigarro e café.


Nana

Dorme benzinho,
não faz sentido acordar.
A lucidez é para os fracos. 
O amor é para poucos. 
Você minha menininha não precisa do mundo.
Pois o mundo é triste.
Sem luz.
Sem cor. 
Sem flor.

                                                                         (Para a pequena Sophie Janis) 

19.3.13

Urso

Noites frias.

Lábios roxos.
Gelo nas pernas.
Sereno na nuca.

Falta de costelas.
De cobertas.
De pelos em canelas.

O que sobra é o urso.
Ursinho de menina
Consolo de mulher.

18.3.13

Lamentações

Lucidez mal feita.
Idéias roídas.
Me contorço.
Entro em pani.
Clamo a Deus.

Nada adianta.
A doença é minha.
O problema é meu.
Não tem Deus ou qual quer
outro que dê jeito.

Meu tormento,
é ser poeta. 
Minha desgraça,
é não ter pecados.

17.3.13

Linha torta

Eu e um livro.
Nada mais importa.
A não ser o fim da linha.
E o fim de uma vida torta.

16.3.13

Carne

A cidade em movimento.
O corpo quieto.

Tudo esta mal resolvido.
Bem deprimido.

A boca que gemeu,
hoje é silêncio.

A humanidade que dormia,
hoje grita.

Deus abriu os olhos.
A carne não mais a mesma.

O doce prazer do copo acabou.
Ressentiu, resguardou. 

15.3.13

Manhã

Olhos embaçados, apertados.
Corpo amolecido, quase parado.
O vento chega, invade o quarto.

Faz festa com os livros.
Espalha cinzas nos lençóis.
Arrepia o gato atordoado.

O dia branco chegou.
A namorada acordou.
O telefone tocou. 

14.3.13

Restos

Estomago virado.
Mente doente. 
Nada funciona muito bem.
As pernas tremem.
A boca geme.
A carne apodrece.
A desgraça tini nas veias.
O corpo não suporta.
Vive de restos.
Se conforma com pouco.
Se rasteja.
Se mastiga.
Vomita o mundo.

13.3.13

Minister

O dia mal começou e já me sinto apodrecido, cheio de problemas, dores e alguns desesperos.
Não costumo ter relacionamentos duradouros, sempre brigo, reclamo e abandono.
Nunca fui um homem bonito, bem barbeado, sóbrio ou bem engomado. Faço o tipo largado, 
bêbado, desalmado, sem pudor, amor e rancor.
O cinzeiro entupido de bitucas de Minister, o copo caído perto da cama e uma calcinha meio desbotada 
perdida nos lençóis.
-Que diabos eu fiz noite passada? 
-Falou alguma coisa querido?
-An? Quem é você? 
-Leda, nos conhecemos no bar de dona Lourdes.
-Não lembro de nada.
-Você estava mal, caído na mesa, meio melancólico porém feliz. Me sentei do seu lado e fiquei te reparando, você sorria e falava coisas que não entendia  muito bem.
-E o que você fez com um pobre bêbado velho?
-Nada de mais, na verdade quem fez foi você, depois de tanta indaga você me pegou pelo braço e me arrastou até seu carro, confesso que fiquei assustada mas depois fui gostando da coisa.
-Definitivamente preciso parar de beber.
-Eu gosto de bêbados, são mais atraentes e selvagens. Mas agora vou tomar um banho, vai se recuperando pois eu quero um pouquinho mais de você!
Nunca me assustei com mulher alguma, mas esta tal de Leda me apavorou, não por ser feia, ela é até bonitinha com a maquiagem borrada, os peitos meio caídos e o cabelo um pouco engrenhado. O que me assustou mesmo foi o fato de uma mulher se interessar por um cara bêbado e porco feito eu, preciso de um cigarro e de um café gelado, a dor de cabeça e o fluxo de consciência estão me matando. Poderia voltar a dormir, me afogar em baba e acordar com cara de pós orgasmo, mas isso seria uma desfeita com a pobre moça, já basta o fato dela ter me suportado bêbado.
-Pronto, demorei?
Leda me aparece nua, molhada e com os bicos dos seios ouriçados, achei engraçada a situação.
-Não, foi rápida, só me deu tempo para fumar um cigarro.
-Que bom. Passamos a madrugada juntos q você não me disse seu nome.
-Você se enroscou com um bêbado sem nome e ainda sim acordou sorrindo?
-Na hora o nome é o de menos, eu queria, você também, então fizemos, para o sexo não existe essa de nome, idade ou telefone, o que importa é satisfazer a carne.
-Você é diferente das outras moças, gosto disso.
-Sou tão bêbada e faminta quanto você, mas então, você vai ou não dizer seu nome?
-Assim, meu nome é Ódin.
-Diferente, gostei.
-Foi uma escolha de minha mãe, é uma cruz q eu carrego ou que me carrega. 
-Você é engraçado, mas tenho que ir. Você por acaso viu minha calcinha?
-Estava perdida na cama. Já vai tão cedo?
-Achei, preciso trabalhar, mas se você quiser eu posso voltar mais tarde.
Se vestindo toda atrapalhada e toda cheia de ideias.
-Eu adoraria, volte sim.
-Tudo bem, então me espere, não garanto nada pra hoje, mas amanhã é uma boa.
-Então esta marcado, nos vemos amanhã e você me apresenta quem é a Leda pessoa pois a Leda carne eu já conheço, mesmo não me lembrando muito bem.
-Você é cheio de gracinhas, pode deixar que eu venho sim e desta vez eu trago cerveja. 
-Combinado!
-Bom mas agora vou-me.
Me marcou com os lábios vermelhos, colocou minha mão em sua perna, saiu requebrando, bateu a porta e se foi.

11.3.13

Desumano

Os dentes careados.
A barba mal feita.
O rosto cortado. 

Nunca tive tempo,
para ser bom moço.
Não me conformo com o pouco.

Vivo de exagero.
Bebo muito.
Escrevo muito.

Raramente sorrio.
Faço pose.
Felicidade é para insanos.

Sou do contra-fluxo.
Sou doente.
Sou desumano.

8.3.13

Perdas e danos

Olhar perdido.
Cabelos soltos.
Pele sem cor.

O cigarro acompanha.
O pensamento reclama.
A carne apodrece.

Se desfaz no vento.
Se perde no tempo.
Morre em desalento.

7.3.13

Adocicados

Beijos adocicados.
Cabelos engrenhados.
Brigas na cozinha.
O mundo contorcido.
Abriga um amor mal resolvido.
Saçarica.
Rodopia.
Toma cachaça.
Reclama da vida.

6.3.13

Bárbaro

Um corpo sem lei.
Sem dono.
Sem coração.

Ora selvagem.
Ora pacato.
Ora cristão.

Sorri para o mundo. 
Cria cobras.
Se arrebenta no chão.

5.3.13

Além do bem e do mal

Não sou a mocinha da tua novela.
A donzela que dá o beijo no capítulo final.
Não suporto o galã bem comportado.
Não guardo fotos,
nem tenho pôster em porta de armário.
Não espero a vitória do bem sobre o mal.
Nunca prestei ou pensei em amor.
Sou atriz de teatro de rua.
Subo palco, completamente nua. 

4.3.13

Além

Pernas para o além.
Cigarro na mão.
Seios largados.

Lábios gorados.
Cabeça tinindo.
Corpo sem sal.

A vida passa. 
Sufoca.
Mata!

2.3.13

Alma sem sorte

Olhos doloridos.
Dentes apodrecidos.
Mente quase insana.

Mundo mareado.
Beijos gorados.
Alma sem sorte. 

Vagueia pelo nada.
Se acaba na estrada.
Se refaz em concreto.