24.2.14

O contador mandala

    A vareta do incenso de camomila formou um caracol delicado encima da TV:
-Desliga este cinza putrificado e presta atenção no vermelho de meus olhos.
    A "filomaníaca" de olhos virados se diz má pessoa, mas no fundo/superfície nada é, ou até é, mas ainda não sabe, ou não se importa em saber:
-Bom, eu conto a história, quem sou sou eu? Um mandala de vidro que vê o mundo de dois seres, de uma forma clara, pura, colorida e as vezes cruel. É um cruel até bonito. do lado homem da coisa, o dono da casa. Eu,como um mandala letrado, sei que cometi um pleonasmo ao dizer "dono da casa" já que donoremete a palavra casa; mas isso não vem ao caso, vamos continuar:
-A parte bonita da casa só sei por gemidos, é claro que para estes dois qualquer lugar é lugar; Vamos começar logo com isso, vou fazer a apresentação dos protagonistas de minha janela, depois vou complementando:
Maria de Nepal é um tipo de mãe, não me criou; a pequena é boa com palavras, mas com arte visual faz o tipo admiradora, ela mirou para minhas cores, quando ainda era moça, fiquei um bom tempo no quarto dela, ali: só ela, alguns tantos livros e eu. Li todos os livros da estante, participei de todos os poemas de Maria, hoje estou aqui; na janela da sala, as vezes, brinco com  vento, com as fumaças dos incensos, com os gritos de Maria... Cheguei aqui por chegar, queria mesmo era ficar no quinto andar, tentando acreditar em algum deus, mas não, estou aqui, olhando para as fuças de um homem que de olhos vermelhos que minha Maria diz amar. O homem se chama Raul Cervantes Saavedra, é um eterno estudante e por agora professor de filosofia. Ciência daqueles que não buscam exatidão, fisgou Maria com tua lábia em galego, acho que é um fetiche dela, o anterior falava latim, ela, ela fala de tudo, afinal: Os mundos de letras, línguas, sons, símbolos e ritmo são de fato os mundos dela, que se divide em mil para dar conta de todos, ela é quase mãe dos deuses, do tempo, do mundo e no fundo é embrião, um planeta que se forma no"útero" de homem, o homem que ela não escolheu, homem este que beija os lábios, toma café e vai lecionar:
-Logo mais eu presto, agora tô vendo o jorna, tá tendo revolução lá fora. Anarquia porra.
-Não vou discutir sobre isso agora, você viu os meus óculos?
-Acho q estão no banheiro, fica quietinha, fica?
-Escória!
-Como?
-Nada Raul, esquece, volta para o teu mundinho.
-Que se foda. 
-Achei, vou-me agora,te vejo mais tarde?
-Acredito que sim, hoje só dou quatro aulas, mas te mordo no almoço.
-Besta, então dê-me um beijo, coisa bruta.
-Dou sim chuchu, não é bruto, é um amor das antigas, minha lavadeira.
-Aiai viu, sinto teu amor atravessando minhas cavidades, mas agora não é hora para isso.
-Como assim hora? Nós lá temos coito com hora marcada?
-Não reclamaria se fosse agora, mas tenho alunos e não estou com muita luz.
-Vira um pouquinho, que dou um jeito, vai sair alumiadinha. 
-Cuidado que eu te mordo.
-Isso não me assusta, nem me faz tremer, pode vir com dentada que eu até gosto.
-Vou sim, mas agora não. Beijinhos menino meu.
-Até mais tarde Maria.
    E mais uma vez ouvi e vi os estalinhos de Maria e Raul. Admito, ainda tenho ciume de Maria com este tal de Raul, tá certo ele é divertido até, mas também é bicho bruto, que olha pra ela com olhos de quem tem fome, é provável que os dois voltem jogando pedra, ela vai acender um, ele vai dar uns tragos, os dois vão ficar se reparando, ela vai fingir um olhar bovino, ele vai virar cara dela e mexer as sobrancelhas, não sei ao certo o significado de tal, só sei que toda vez que ele faz isso, ela empina os peitos e depois vai para o banheiro, ele sai correndo, arrancando a camisa e tentando tatear as ancas dela; e é ai que começa os gritos de minha doce e escandalosa mãe Maria, mas vou deixar acontecer, este negócio de profetizar o bom é coisa de quem besta é...

23.2.14

Dengo meu

Sonhemos aqui com o impossível.
Deixe-me chapar nesse teu cangote.
Na tua boca com gosto puro de cerveja e erva.
Sugue-me para dentro de tua desgraça.
Aperte-me com as mãos delicadas e ainda sim fortes,
com pequenos calos por conta da baqueta.

Venha para minha garupa.
Meus lábios.
Meu eu...

Só não demore muito. 
Pois para ti:
Só tenho a eternidade!

Cama em mar

Batendo.
Pulsando.
Roendo.

Vivendo como  quem morre:

-Afoga-te.

Vá para além do sabor do falo.
Tronga que vira a capa ao avesso.
Leve-me para teu banho noturno.

Banho de sal.
Suor.
Mar. 
Saliva.

Cuide desses ossos fracos.
Sem dono ou família.
Banhe-me os lábios
com teu gosto em flor.

Pele morena tocável.
Com dores,
glórias,
desamores,
descasos...

19.2.14

Peste!

A beleza aqui é pouca. 
Crua.
Com gosto e cheiro 
de carne de sol.

Couro moreno.
Fraco. 
Curtido.
Curado.

Dorme de retinas estaladas.
Bota pra assuntar o rasto 
e o chocalho.

Sente oque é bom peste. 
Provo do gosto.
Reclama depois. 

16.2.14

Na face tua

Verso escrito na face pura
daquele que menino é.
Mire os olhos para o poema despido.
Escarrado por uma boca em flor;
Que beija-te como quem fome tem.

Labuza-te por passar 
duas vezes pelo mesmo ponteiro:
Aquele que beija um deus,
Despi corpos
e provoca o cio de humanos/feras.  

Sinta:
-É no esfregar de matérias
que se enverga o cambito.

Briga de línguas.
Troca de pernas.
Regalo de corpos.

Faço-te de um chamego 
sem usar mãos.
Prosa de dois:

-Encolhe teu corpo 
entre medianos seios.
Amolece tua carne,
Deixe o segredo vazar. 
O choro evaporar.
O gozo entre quatro pernas escorrer,
colar no moreno da pele 
e por momento durar...

9.2.14

aeternum

Cola os teus lábios nos meus.
Com brisas em verde e vermelho.
Teu gosto de cachaça amanhecida,
está aqui; espelhado em minha saliva
e em teu ideal. 

Venha com teu samba.
Teu rock.
Teu mambo.
Teu tango.

Façamos festa
entre mil bocas,
mil corpos. 
Tudo somos.

Amarrados por uma flexível
corda de náilon:
Sem desgaste.
Sem juras,
Apenas eternos:
Eternos somos.

6.2.14

Melindre amiudado

Atente os teus olhos para o meu fim.
Aquele gosto de sangue
malogrado nos falhos dentes.

A cartomante fala de amor.
Eu falo de Perseu.
Filho enjeitado de deus sem pomba.

Nem paz. 
Nem gozo.
Tudo se acaba num canto.

Entre o pomo de Adão
e o monte de Vênus
É onde morre e nasce o mundo.

3.2.14

Esparso

Numa dança leve
na curva de teu sorriso.
Querendo não só o dito riso,
mas também tua desgraça.

Aceitar alegria é coisa fácil. 
Aceitar desgraças e lamentos; é raro.

Entrego-me em teus braços.
Aceito seguir teu balanço de mar.
Mutável e inconstante.
Que por agora; 
Atua um olhar bovino.

Por medo de mais uma vez 
cair nas larecias de um sentimento
sem nome.
Sem tamanho.
Esparso.

1.2.14

Deslizando-te

Não dormi pensando no teu gosto.
Sim, tenho sentimento por ti,
mas desejo; nem tanto.

Não fique tristinho assim:
Sou momento, passarinho, saudade.
Venho, faço morada e depois: 
Bom, depois passa.
Talvez, acaba.

Mas com você não:

Desprezo teu cigarro.
Teu choro choco e barato.
Tua voz fanha.
Teu peito murcho, atuando grandeza.
Teu orgasmo, 
espalhando-se em minha podridão supostamente humana.

 Confesso; Amo-te.
Quero-te de um jeito demente,
doente.
imprudente.

Mas quero-te:
Meu.
Teu.
De todos...