27.3.14

Poesia-me

Coturnos com biqueiras gastas.
Aquelas bolhinhas no calcanhar.
Um poema com teus olhos.

Teus malditos olhos
que não me querem
nem por reza,
nem por flor.

Não pergunte aqui 
o sentindo de ser;
Estamos num estado nulo:

Sob as vistas de um deus impotente.
Sobre o dorso de um diabo rosetado. 

Numa ideia, 
cujo o carmim se desbota com os ventos
e nos leva de arrastão 
para à barca que nos faz flutuar
entre o filete de vida
e o suposto fim, na massa enrustida.

Ultimo suspiro de uma infeliz;

Nem cisco põe 
nos malditos olhos 
do bem-amado...

23.3.14

Sobre Ela

A beleza é tua.
O amor é meu.
O sorriso: 

-Este malandro que passa do meu rosa  para o rosa teu...
Este é nosso.

Mas o teu é rosa em leite, 
que quando escorre;
Desabrocha os botões dos ipês amarelos.

Pequena  tuiuiú:

Mostre o branco de tuas asas 
para este povo triste,
que não conhece paz e nem a pureza 
dos castanhos olhos teus. 
                           (Para minha sobrinha: Sophie Janis)

19.3.14

Além da curva

Abocanhando-te feito fera.
Que por descuido ou meninice
sorriu para os olhos teus. 

Teu passado para mim, nada é.

Já fui pecado.
Doença.
Demência. 

Comi pelas beiradas.
Joguei-me de cabeça.
Fui ao fundo do poço:

Pupilas dilatadas. 
Um planeta imprudente...

Orbita do corpo teu,
acalenta-me com tua ideia.
Teu beijo.
Teu problema.

Não seja só mais um que sorri;

Beije-me os lábios,
deixe-me compartilhar de teus problemas,
de teu gosto bom.

Vire-me pelo avesso. 
Chore neste seio doído,
pois de tu não quero só o riso.

Quero tuas formas, 
tuas cores,
teus sonhos,
teu lamento...

4.3.14

Roçando

Tu é quem vicia os meus versos. 
Venha vilão dos mundos,
trove o poema
que o roçar de tua língua
na minha criou.

Não te iluda com o intocável.
branco,
sem sexo,
falso anjo. 

Abra o teu terceiro olho.
Admire-se com conhecido:
Mulher de carne, osso,
desgraça, sentimento.

Coberta de sonhos,
sai com fome.
Bebendo sangria,
versejando para a morte. 

3.3.14

Surrupio

Vias passadas 
da metáfora viva. 
Que linguisticamente
habita na saliva doce,
no palato do outro,
na pele chupada.

Rasgando nos dentes
palavras de amor:
-Amor bom é amor rasgado. 
Puro,
comestível.
Roubado pelo bico do corvo.

2.3.14

O contador mandala (parte II)

...Por agora estou aqui; olhando para as ventas de Raul e para sua mão escorregando em seu pau mediano, sim, Raul está se"punhetando", a principio achava nojento presenciar este tipo de coisa, mas depois fui me acostumando, até vomitei alguns versos: 
"As punhetas de Raul"
Na primeira manhã de outono 
tu te senta no sofá;
O barulho da chuva, 
o cheiro de café,
o perfume de fulô.

Tua ideai está aérea.
Tua mulher foi ao analista:
Falar de morte, cigarro e tu.

A morte é dela.
O cigarro também.
Só tu que não.

Tu é dessa tua mão direita.
Que escorrega de um jeito torto.
Do falo,
para o talo. 
(Mandala)
Sim, eu sei que este não é o poema mais divino do mundo, mas quando você vê muitas vezes a mesma coisa, o tu surta, o tu sutra, eu resolvi "sutrar", poetar, versejar e até mesmo "punhetar" o meu pau imaginário; Mas enquanto eu lia meu poema, Raul se masturbava, agora já acabou e está com a bunda de ema virada para as minhas cores, coitado, além de ter liberado pouco orgasmo, ainda sujou a almofada preferida de Maria, tá se matando de limpar e provavelmente não vai conseguir, Raul é uma negação com os serviços domésticos, mas logo Jurema chega e dá um jeito nisso, Jurema é a diarista do covil, ela foi contratada para tirar o pó dos livros e dar uma carioca na casa, Maria não faz o tipo patroa, até porquê Jurema é especie de amiga, afinal: Toda mulher inteligente precisa saborear um pouco do vulgar ordinário que é o mundo:
-O seu Raul...
-Tá aberto Jurema, pode entrar.
-Cê num tá pelado não, né?
-Estou enrolado na toalha, se quiser entre, se não espere eu ir trabalhar.
-Bicho véi leproso, tô entrando, cubra os trem.
-Bobagem.
-Tudo bom seu Raul?
-To bem sim, mas já estou de partida.
-Tá com conversa de quem vai morrer.
-Deixe disso Jurema, só trabalhar mesmo, se fosse morrer eu estaria mais sorridente.
-Nem vou te chamar de besta.
-Pode chamar, nunca me importei com as palavras que são cuspidas por tua boca.
-Aiai viu, não vai trabalhar não?
-Já vou mulher, deixe de coisa.
-Seu Raul, a coisa aqui é tua, que fica aqui só se pabulando e não vai logo trabalhar.
-Já vou, mas e meu beijo, cadê?
-Na boca de Maria; agora vá logo.
-Tô mole mesmo, até Jurema quer me montar.
-Quero é começar logo, para poder sair mais cedo.
-Tudo bem, então eu vou-me, logo mais eu chego junto de Maria.
-Bom trabalho seu Raul.
-Obrigada Jurema.
    Enquanto Maria e Raul estão no mundo, eu fico aqui; pensando sobre oque fazer com minha vida, que deveria não existir, mas existe, então eu vivo, não muito bem, mas vivo. Ainda acho que Maria deveria deveria me fazer de chaveiro, assim eu saberia de tudo: Das delicias dos livros até as desgraças da vida, mas por agora eu passo bem; Com minha tarada Jurema aliciando-me com este paninho molhado de veja...