Numa dessas noites de mormaço vejo-me meio
torto, é claro; ser torto é algo comum para um homem feito às avessas. A é,
esqueci de me apresentar: Meu nome é Pedro, Pedro Jasão Martins, sou um tanto
quanto embriagado, porém não tenho vícios; bebo porque quero, não porque
preciso, mas é claro: tudo fica mais digerível com bebidas e um pouco de pó.
Acho que ainda não falei sobre as prostitutas, aquelas que são mais psicólogas
do que putas. Noite passada estava com uma dessas, bonitinha até: Purpura,
bêbada e com olheiras fundas. A pele da pequena moça era macia, com cheiro de
cigarro e com gosto de cerveja, não me recordo do suposto nome dela, só me lembro
de coisas importantes, como por exemplo oque ela me disse quando acordei:
-Olá rapaz, oque acha de
tentar viver um pouco? O mundo é grande,
porém cabe em sua cama. Viver é triste e doente, mas às vezes encanta.
Após
ter dito isso, ela se virou de costas, abriu um pouco a janela e começou a
fumar; acendia um cigarro na brasa do outro, acho que ela estava nervosa ou
preocupada. Com uma mão segurava o cigarro, com a outra brincava com os cabelos
coloridos, eu que não fumo senti vontade de fumar, só para sentir oque ela
estava sentindo. A nicotina corroendo os dentes, o cheiro impregnando a pele,
os olhos sonolentos e cara de satisfação por ser desprezível.
Quando moço até tentei “aprender” a fumar,
mas não deu muito certo, me engasguei com a fumaça e queimei meu próprio braço,
depois disso até tentei fumar novamente, porém acho que nunca vou aprender. Talvez
eu não saiba fumar por conta do desinteresse, acho que se eu tentasse fazer tal
coisa em meus momentos de depressão, garanto que daria certo, pois o segredo de
fumar é buscar satisfação e não brincar de ser vaidoso.
Voltando a parte importante da coisa: A
moça que fuma e brinca com os cabelos usava uns óculos engraçados, na ponta do
nariz, ela reparava em tudo, nos carros que passavam na avenida, no pombo que
aparentemente sentia fome e nas pequenas cicatrizes de meu braço. Muito educada
ela nada falou, mas ficou encarando-as, como quem tenta decifrar o sentindo da
vida, ela tentava decifrar o sentido de minhas marcas, aqueles olhinhos compridos
de alquimista de poemas sugaram meu estupido eu. Mais que uma puta, uma
alquimista, uma fumante; ela foi e é uma espécie de exorcista de corpos ateus,
por instantes eu me senti sem “demônios”, sem dor e até mesmo sem vida.