28.4.13

Entre letras, goles e tragos

  Após alguns cigarros sinto-me melhor, um tanto mole, fraco, suave, porém bem. 
Volto a escrever, falo de pernas suadas, seios de mulher em resguardo respingando um leite fino e claro por toda a cama. 
  Tomo um vinho doce feito o sangue que corre pelas veias do homem, não é meu preferido mas é o mais barato. Não posso sustentar meus vícios com luxo. Me contorço na cadeira, fumo mais um cigarro, volto para a escrita.  Continuo pensando nos seios pingando, lembro-me de minha primeira esposa, das brigas pela tv, do choro estridente e esfomeado de Manoel, das loucuras noturnas e dos chifres trocados. Mas logo  esqueço, volto a ser bicho solto, rasgo seda, penso em sexo, apago linhas, me enrolo em em panos, 
faço um casulo de trapos e durmo. Morro por alguns instantes, volto para o mundo, pego meus cadernos amarelado e escrevo, retorno para minhas inacabadas histórias. Acrescento umas duas palavras, uns pontos perdidos e paro. Termino em vírgula. Procuro putas adocicadas de bunda avantajada e seios graúdos.
Nada me satisfaz, não preciso de sexo, preciso de ideias, de momentos e de arte. Estou farto de corpos ocos e mentes lesadas. Preciso sugar da minha alma e beber da minha saliva, como uma masturbação mental    que vai além de sexo, de paz, de ódio e de amor. 


27.4.13

Um sorriso para a desgraça

Sou pássaro livre.
Saio  a revelia,
regalia.
Cambaleando no céu.
Contorço-me em abismo.
Deparo-me com Deus.
Beijo a navalha.
Sorrio para a desgraça.

23.4.13

Divino

Sou rouca, até meio fanha. 
Ando pelo mundo gasto.
Rasgo as meias.
Marco as pernas.

Não tenho muitos amigos.
Nem muito dinheiro.
Fumo constantemente. 
Bebo sempre que posso.

Não me conformo com o divino.
Aprecio livros amarelados, envelhecidos.
Ignoro bons meninos. 
Me entristeço sem motivo.

22.4.13

Falhas

Lhe dou um beijo chupado.
Sugo seu resto de saliva.
Coloco cor em tua pele amarelada. 

Me faço em mil meninas.
Confundo nossas pernas.
Me arranho em tuas falhas.





18.4.13

Mel

Amor pairando no ar.
Solto no mundo.
Sem pressa.

Se agarra na pele fraca.
Molha o corpo.
Se banha de mel.

Se faz de atriz.
Contista.
Infeliz.

Se doa ao mundo. 
Se faz mulher. 
Se diz cruel. 

14.4.13

Ventania

Taça fraca com vinho seco.
Alicia a fumaça do cigarro forte, vermelho.
Contorcem-se na garganta.
O sorriso ameno, quase choroso.
Bate os dentes,
Com a ventania nos orvalhos.

11.4.13

Mirra

Mirra no quintal. 
Chá quente caído na mesa.
Azulejo desbotado.
Sopa sem sal.

O cigarro forte
acompanha o desleixo. 
A cabeça coçando,
Lembra gato pulguento.

O sangue percorre 
as veias frias.
As ideias,
Atordoam as lembranças.

A mudança de clima,
ilude os fracos.
E meu bom senso
perde o compasso. 

10.4.13

Suportar o mundo

Sorriso mordido.
Alma engavetada.
Cabelo engrenhado.
Mais uma hipócrita,
De carne putrificada.
De dentes careados. 
E ideias apodrecidas.
Pouco impota o mundo. 
Quando se é poeta.
O jeito é suportar o mundo.




9.4.13

Bombocado

Mulata plantada em terra batida.
Casinha de taipa com cheiro de flor.

Moço amolecido na rede.
Moça contente.

No cantinho um rádio de pilha.
Na cozinha uma galinha choca, meio torta.

Uma briga com a vassoura.
Um beijo no pescoço. 

A esteira chama o corpo.
Levado no dorso, carregado de amor.

8.4.13

Defenestrado, malogrado e coagulado

Corpo defenestrado.
Ideias malogradas.
Lágrimas coaguladas.

Mundo sem eira nem beira.
Prato de sopa quete.
Falta de saliva.

Lábios ardem.
Queimam.
Beijam.

4.4.13

Quase

Pernas secas.
Muita ética.
Poucos gritos.

Está tudo nos conformes: 

Saciável.
Controlado.
Responsável.

O beijo não urge.
O lirico dorme.
O secreto aparece.

3.4.13

Doce desejo

Apague as estrelas.
Caia nas flores.
Venha de boca.
Ame-me devagarinho.
Cheio de dentes.
Pernas.
Pelos e fronhas.

2.4.13

Dança

Almas molhadas.
Corpos paralisados.
Lábios amolecidos.
O nosso quase amor é isso.
Uma dança de corpo, alma e pelo.
Que se vira do avesso.
Faz das tripas coração.
Mete medo.
Pede beijo.
Reclama da vida.
Se entristece.
Adormece. 

1.4.13

Preto e branco

Caminho pelo preto e branco da vida.
Vou a passos curtos.
Não sou do tipo bonito e romancista.
Sou devagar.
Desinteressado.
Fumante e frustrado.

Não me agrado com qualquer coisa.
Sorrio pouco.
Durmo pouco.
As vezes ressono.
Reclamo.
Murmuro.