26.4.14

Grenha

Gosto quando chega mole.
Estabanado.
Espatifado.
Querendo o mundo...

Com estes olhinhos brilhantes,
devoradores dos mundos.
Dos deuses.
Da morte.

Respingo-lhe o tórax
com saliva e gotinhas 
d'água:

Uma gota por mecha.
Sincronia...
Demência de nossos corpos. 

24.4.14

Quase-sorriso

Exagero para te chamar de Deus:

-Beba benzinho, beba!

Rasgue-me os versos.
Fique calando,
estou reparando no teu riso.

Não é pintura. 
É poema.
Então mostre os dentes.

Não estrague a imagem 
com tua voz em Mi.
Cala-te!

Sem beijos 
ou alecrim.
Só teu riso.

Teu riso, sim!

22.4.14

Ode em suspiro

Acontece que os teus olhos 
dos meus já abusaram.
Entenda que tua não sou.

Sou dos ventos que uivam entre as brechas da janela.
Do verso doce que escorre no canto da boca. 
Da ideia rara, que se cala para não se limitar. 

Não me venhas com tua figurativa retórica.
Nem com o teu amar trancado.
Muito menos com teu querer frouxo e idoso.

Preciso de contos bobos.
Pensamentos inúteis para o mundo.
Conversas sem voz, somente olhos.

Tu, não pode com a delicadeza.
Encara o mundo com olhar bovino.
E se perde em papiros, para mostrar a tal idade.

Não me apresente ao belo. 
Quero o ridículo que me faça sorrir.
Não tolo me atice o choro.

Beije-me com os teus lábios em cacos.
Sugue tudo que é teu. 
Leve aquela que um dia fui eu.

A ideia não para.
A prosa não para.
A poeta: 

Só para 
para o suspiro
descontínuo...

10.4.14

Ver com a língua

A indecência da pele 
atordoa a podre retina.

O ver aqui é com a língua:

-A chupada inicial 
é o que define o verbo.
A cópula.
O verso...

9.4.14

Luso

Quero prender os teus beijos 
num papel de bala amassado.
Sentir teu gosto agridoce 
fazendo samba no meu palato.

Venha nu.
Curtido no álcool.
Perdido, caído...

Suposto filho de Baco:
Luso que cria um povo,
uma língua.

Língua que roça 
no bico de um seio cru,
feito o fogo roubado
que alimenta a fome de vida do homem! 

6.4.14

αγάπη

Corrompida por teu pensar subversivo.
Entrego-me de vez para o teu escárnio.
Lusitano desterrado:

-Plante o teu corpo desbotado no meu.
Deixe-me ser teu solo.
Tua terra curada.
Teu pequeno grão mazombo...

Talvez tu goste.
Talvez tu fique.

Vire flor.
Borboleta.
brisa...

Por agora

Morte da fome. 
Beijo em cutelo.
Sentido num deus? 

Corpo alugado.
Alma barroca.
Sorriso em ilharga...

Convite mudo:
-Morre comigo?

Resposta em suspiro...

-O beijo falho
por agora me basta.