24.11.13

Figura

Sinto dor e prazer 
com teu beijo.
Puro luxo sinestésico 
de minha carne.

Venha!

Salive minha epiderme com gosto de ópio,
o suposto pecado que habita entre minhas pernas.
Que vai além e não hipérbole. 

Não me venha dando de ombros.
Não sopre em meus ouvidos teu doce eufemismo.

Entenda:
Sou a metáfora de teu delírio.
A prosopopeia de tua ideia inanimada. 
A metonímia de teu poetar.

20.11.13

Estro

...Loucura talvez?
Olhos miúdos, 
porém falantes.

Sim, olhos falam.

A boca liberta oque dá. 
Os olhos., escondem.

Medos, doenças, delírios, sorrisos, amor, problemas.

Não é só uma mente roída.
É um regalo.
Um orgasmo. 
Uma lira despida.

Apodrecida...

Não inspiro coisa alguma. 
Nunca fui poema.
Sou poeta.

Esparso.
Clímax.
Espasmo.

Não por luxo
ou necessidade.

O que faço?  

Idílio.
Vilancete.
Acalanto...

Tudo mais, jogo na brisa.
No tempo.
No quanto!

17.11.13

A Alquimista parte I

    Numa dessas noites de mormaço vejo-me meio torto, é claro; ser torto é algo comum para um homem feito às avessas. A é, esqueci de me apresentar: Meu nome é Pedro, Pedro Jasão Martins, sou um tanto quanto embriagado, porém não tenho vícios; bebo porque quero, não porque preciso, mas é claro: tudo fica mais digerível com bebidas e um pouco de pó. Acho que ainda não falei sobre as prostitutas, aquelas que são mais psicólogas do que putas. Noite passada estava com uma dessas, bonitinha até: Purpura, bêbada e com olheiras fundas. A pele da pequena moça era macia, com cheiro de cigarro e com gosto de cerveja, não me recordo do suposto nome dela, só me lembro de coisas importantes, como por exemplo oque ela me disse quando acordei:
-Olá rapaz, oque acha de tentar viver um pouco?  O mundo é grande, porém cabe em sua cama. Viver é triste e doente, mas às vezes encanta.
     Após ter dito isso, ela se virou de costas, abriu um pouco a janela e começou a fumar; acendia um cigarro na brasa do outro, acho que ela estava nervosa ou preocupada. Com uma mão segurava o cigarro, com a outra brincava com os cabelos coloridos, eu que não fumo senti vontade de fumar, só para sentir oque ela estava sentindo. A nicotina corroendo os dentes, o cheiro impregnando a pele, os olhos sonolentos e cara de satisfação por ser desprezível.
    Quando moço até tentei “aprender” a fumar, mas não deu muito certo, me engasguei com a fumaça e queimei meu próprio braço, depois disso até tentei fumar novamente, porém acho que nunca vou aprender. Talvez eu não saiba fumar por conta do desinteresse, acho que se eu tentasse fazer tal coisa em meus momentos de depressão, garanto que daria certo, pois o segredo de fumar é buscar satisfação e não brincar de ser vaidoso.
    Voltando a parte importante da coisa: A moça que fuma e brinca com os cabelos usava uns óculos engraçados, na ponta do nariz, ela reparava em tudo, nos carros que passavam na avenida, no pombo que aparentemente sentia fome e nas pequenas cicatrizes de meu braço. Muito educada ela nada falou, mas ficou encarando-as, como quem tenta decifrar o sentindo da vida, ela tentava decifrar o sentido de minhas marcas, aqueles olhinhos compridos de alquimista de poemas sugaram meu estupido eu. Mais que uma puta, uma alquimista, uma fumante; ela foi e é uma espécie de exorcista de corpos ateus, por instantes eu me senti sem “demônios”, sem dor e até mesmo sem vida.

14.11.13

Galgo













Copos emborcados.
Cigarro entre ressecados lábios.
Ideias secas e roídas,
porém vivas, ativas.

Como quem por ignorância sorri.
Não sou de lamentos.
As vezes choro.
Dou cria.
Morredeira.
Mas passa.

Tudo passa.

Tenho corpo de lagarto. 
Perco o rabo.
Fico toco.
Dói.
Mas passa.

9.11.13

Purpura

Tente não reparar no fio envelhecido.
Esqueça o castanho amarelado.
Olhe para o novo.
O purpura.

Combina um pouco 
com filtro do cigarro forte.
Desbota a cor
dos lábios em coração.

Transforma-se em morrer de sol.
 Sangue cigano. 
Corre por veias.
Acaba-se em pó.
Água.
Suor.


4.11.13

Abafadiço












A noite abafada que atrapalha o sono.
O sonho roubado,
por lábios impuros.

A manhã sonolenta que atiça a pupila.
que atrapalha a suposta boa vida. 

Boca amolecida. 
Parnasianismo exato, 
quase podre, roído.

Se desfaz nos ventos de segunda-feira.
É apreciado.
Ridículo.
Amado.
Temido.