30.11.12

Navalha

Depois de tantas despedidas.
Nos reencontramos no mesmo bar. 
O rosto barbeado, levemente cortado.
No olhar, aquele velho e bonito cansaço.
Confesso: Mais uma vez me encantei.
Mesmo com todos os nãos, 
me perdi em um único sim.
Sim este que me fez tua presa.
Me rasgou o embrulho,
feito navalha amolada.
Fui teu brinquedo.
Tua carne.
Teu corpo.
Hoje, sou tua.
Sem acréscimos, 
só tua.

28.11.12

Pede teu nome

Sangue latino, 
que percorre minhas veias.
Faz arder.
Queimar.
Pulsar.
Em madrugadas frias,
pede teu nome.
Grita como quem pede leite.
Grito doce e estridente.

Camomila

Colhi uma flor.
Pequena.
Desgrenhada.
Com todo o cheiro bom. 
Doce calmante de meu jardim.
Entreguei a doce flor para um moço.
Moço triste.
Assim que viu a flor, sorriu.
Pegou.
agradeceu.
Partiu.

27.11.12

Cravada, apegada, grudada

Minha tristeza não é destas que vem e passa.
Ela cravada na veia.
Apegada na alma.
Grudada na carne.
Vira e mexe, sorri.
Sempre que pode, chora.
Se engana.
Se encanta.
Se espanta.
Minha carne se contorce.
Minhas veias pulsam.
Minha alma foge.
Nada esta em paz.
O que reina, é o caos!

26.11.12

Café

A borra fria do café,
fala de minha manhã.
Manhã fria.
Quase sem vida.
Me conformei, 
com o cheiro bom.
Cheiro de café.
Fumaça de cigarro.
Xícara quente.
Corpo gelado.

25.11.12

Amora

Sussurro que virou gemido.
Grunhido.
Ganido.
Teu pescoço hoje é amora.
Amora doce e roxa.
Atiça todos os olhos.
Acalma todos os lábios.
Lábios vermelhos e inchados.
Pernas suadas.
Corpo cansado.
Faz peito de alfada.
Mama, dorme, baba.

Lixo

Angústia é o que habita meu peito.
Quero me jogar fora.
Me reciclar. 
Começar de novo.
De jornal, virar machê.
Me acabar em pequenos dedos.
Dedinhos miúdos de criança feliz.
Me fazer de confete.
Me solta na festa. 
Me varre pra o lixo.

24.11.12

Sem amor ou dor

De tristeza e derivados,
entendo aos bocados.
Quando o assunto é felicidade:
Me calo.
Me tranco no quarto.
Entro em resguardo.
Sou de poucos amigos.
Sem amor ou dor!

Trapo e botão

Dengo de menina. 
Boneco de trapo.
Olho de botão.
Tudo feito a mão.
Mão espetada.
Olhos atentos.
Boneco pronto.
Cheio de remendos.
Tem colo, cama e beijo.

23.11.12

Violão

Samba fraco.
Recém escarrado.
Pouca letra.
Três acordes.
Debulha por malandragem.
Refrão:
triste,
minguado,
largado.
E ainda sim muito do adorado.

22.11.12

Rabisco

Rabisco em linhas tortas.
Não tem meio ou fim.
Só tem começo.
Começo errado e errante.
Sai por ai.
Se perde em moinhos.
Invade pensamentos.
Depois volta.
E mais uma vez se encaixa,
no torto de minhas linhas.

21.11.12

Gravata

Este teu colarinho, pouco agrada.
Apertado.
Sério.
Triste.
Teu pescoço é tua amargura.
Teu silêncio, é o que atordoa.
Olhos fixos.
Sem emoção.
Nada de sorriso.
Pobre de ti menino.
Se acabou em um nó de gravata.

19.11.12

Olhos

Meus olhos saltaram de mim.
Foram pra ti.
Se encantaram por tua face de menino.
Querem mais que a face.
Querem logo o menino.
Menino que se resguarda. 
Faz pouco caso.
Nem se importa com os olhos abobalhados.
Fica ali, parado, acanhado!

Dente

Dente teu.
Leite meu.
Chega rasgando.
Empurrando.
Avassalando.
Molar forte.
Faz doer.
Roer.
Morder.
Alvo feito sal.
Duro feito pedra.

18.11.12

Angústia

Angústia plangente.
Me consome.
Me atiça os sentidos.
Me sufoca.
Agita.
Quase me mata.

Solilóquio na noite vazia.
Me visita.
Minha angústia o conhece.
Convida para entrar.
serve um chá.
Faz de meu corpo sua morada.

Enquanto posso suportá-lo.
Pois chegado é o tempo.
De nos despedirmos.
Despedia, sem choro.
Sem abraço.
 Em festa,
chego a soltar confetes.

Como quem vai a praça.
Dar o ar da graça.
E pedir a graça das moças.

O sorriso volta.
Só não sabe se fica.
Está em desacordo,
com os olhos.
Nos lábios, o sorriso.
No olhar, a angústia!

                                   (Dagmá Queiroz e Leticia Borges)



Rua vazia

Um dia sem muito o que fazes,
sai em busca.
Uma busca por sei lá o que.
Fui vagando.
Vadiando.
Passeando.
Encontrei uns ratos desvairados.
Alguns gatos retardados,
e uns humanos alienados.
Me encostei no canto de uma rua.
Rua vazia, com pouca luz.
Só sentia minha respiração.
Minha busca? Era eu.

Toda do mundo

A nostalgia é o que me serve.
O filtro amargo do cigarro,
é o que beija meus lábios.
Me torturo com um poema nosso.
Meu consolo? 
Uma garrafa de whisky barato.
Bebo.
Trago.
Me estrago.
A culpa? 
Toda do mundo.

16.11.12

A roda da saia

A cuíca geme.
Morena se espalha.
Ganido, gargalhada.
A saia roda.
Sorriso alvo.
Pernas suadas.
Seios que saltam,
a cada repique de tamborim.
Violeiro entra de baixaria,
Faz folia, euforia.
Cavaco pra fazer bonito, 
se acaba no choro.
O coração de morena,
bate feito surdo.
Surdo de bloco, formado na rua.
A sandália, chia mais chocalho.
Morena não samba.
Morena, é o samba!

Vinagre

De vinho,
virou vinagre.
Acido, azedo.
Pobre de ti,
já não tem mais cor.
Não é mais degustado.
Apreciado.
Adorado.
Amado. 
Não banha os casais alucinados.
É triste, amargo, desalmado.
Tua mudança,
lhe acabou.

15.11.12

Insosso

Quero pingar uma estrela
neste teu olho miúdo e sem vida.
Amassar teu poema fraco, 
fazer um cometa.
Jogar seu sambinha choco 
no mar, pra alguma sereia 
com graça cantar.
Quero fazer birra.
Colocar sal,
pra te livrar do insosso sem vida.

Latido

Sentada no para-peito.
Olho para o céu sem lua.
Me sinto livre e com medo.
Balanço as pernas nuas,
sinto o sereno gélido da quase manhã.
Reparo tudo,
só ouço latido e vento.
Vento quase ventania.
Latido fraco feito quem mia.

14.11.12

Poeira

Os ventos frios do norte,
levantaram e levaram a poeira,
de meu peito dilacerado.
O que era velho, pobre e pouco,
se foi com vento.
Um ácaro caído permaneceu,
no peito doído.
Hoje ele se corrói,
se destrói.
Mas morrer, não morre.
Fica ali.
Fez de meu peito,
um canto.
Teu canto.
Nosso canto.

12.11.12

Engano

A cama quente.
O peito, gélido.
Esta falta de amor ou louvor,
 me correi.
Quase me destrói.
Um pedido de paparico.
Um abraço forçado.
Uma migalha de afeto.
Um choro.
Um rolo.
Um pingado.
Um telefonema, só dizendo: 
Desculpa, foi engano!

11.11.12

Prato do dia

Traça sabida.
Traçou o traço que o poeta teceu.
Fez das linhas de agonia,
o prato do dia.
Do verso com choro,
o doce morango.
O poema a satisfaz.
Quem é o poeta? Tanto faz.

Mariposa

Sou mariposa.
Fria e frágil.
Sem noção de perigo.
Dou mil voltas em torno da vela.
Minha vida, é voar para morte.
Paro, reparo.
Sinto o arder da chama.
Meus olhos, 
se encantam, 
se dilatam.
Sou seduzida pelo fogo. 
Pairo sobre a vela.
Me queimo.
Viro fogo!


7.11.12

Vaga e maliciosa lembrança

Meu olhar distante, meus pensamentos em ti.
Me lembro de tudo.
Teu corpo.
Teu beijo.
Tua fervura.
Nada sai de mim.
Teu calor ainda está aqui.
Calor que molha,
mas não encharca o suficiente
 para lavar a saudade,
que insiste em enlouquecer.
Minha mente fraca, pulsa, se atordoa.
Não sabe qual caminho seguir,
pois o único que conhece é teu corpo.
A saída encontrada é se refugiar numa:
Vaga e maliciosa lembrança.

(Palloma Karine e Leticia Borges)


Doce melancolia

Não há algo que possa se definir,
ou ao menos contar os segredos 
guardados nos olhos de uma menina.
Este universo é uma ponte para 
milhares de palavras, 
que jamais serão ditas .

Guardadas, caladas, reprimidas.
É mais que palavras.
Vai além de sentimentos.
São pessoas.
Pessoas amadas e abafadas cá dentro.

(Polloma Karine e Leticia Borges)


Pimenta

Doce malagueta.
Pimenta forte,
que vai além de cheiro.
É doce e picante.
Lembra a bons beijos.
Beijos ardosos e fogosos.
Pimenta quente.
Lábios em chamas.
Tudo arde.
Pede. 
Se perde.
Se encanta!

6.11.12

Fusca

Em uma noite de nostalgia me lembrei do velho fusca.
Fusca amarelo que pertenceu a meu avô.
Tinha bancos de couro,
que em tempos de sol,
esquentava tuas pernas brancas.
Você não gastava nem um pouco,
dizia que era pequeno para nossas artes.
O banco traseiro espremia sua volumosa traseira.
Você me beijava, parava e falava: não dá.
Mas no final, sempre dava.

5.11.12

O homem da rua

O homem da rua que tudo vê, e a nada se apega.
Os olhos tristes e vazios da moça que suspira pelos cantos.
A fêmea acanhada de belas pernas, nada fala, só repara.
Umas dançam, outras choram.
O homem, nada faz.
A triste noticia cinza é apreciável, o seio rosado, não.
Tudo passa, nada dura.
O que sobra é a noticia.
Noticia velha.
Que de velha se decompõe.
Vira pó.
Enterra o homem! 

3.11.12

Meu mal

Meu esmalte gasto.
Nem se compara com meu olhar cansado.
Carregado, amargurado.
Lábios secos, feito o solo da catinga.
Minha pele fria feito a morte.
Meus cabelos soltos e despenteados.
Ando com a noite, embriagada, apavorada.
Vivo em vicio, sou meu vicio, minha dependência, meu mal.

Todo e torto

Cansei de sua enrola.
Se for pra ser, que seja agora.
Vem assim: De samba canção,
pé no chão, correndo na contra-mão.
Com os olhos de menino cansado.
Os lábios carnudos e desenhados.
O peito magro o jeitinho acanhado.
Te quero todo e torto.
Assim de todo jeito.
Só não demore meu bem.
Sou borboleta e não tenho muito tempo!

2.11.12

Universo entre lentes

Ponho meu avidor.
Pelas lentes dele, vejo tudo.
Meu tudo de letras.
Meu tudo de mundo.
Consigo enxergar o avesso do verso
e o resto do universo.
As vezes penso que vejo pensamento,
mas é mentira, nada vejo.
É tudo ilusão.
Ilusão de ótica.
Ilusão da mente, 
bate e rebate nas lentes de vidro!