29.5.13

Lambuze-se

-Mais a baixo benzinho.
-Cuidado com os dentes. 
-Não grite tanto,
assim vai acordar o cortiço.
-Não faça birra.
-Caia de boca.
-Lambuze-se.
-Inove.
-Revire-se.
-Quebre com a cama.
-Morda-me os lábios.
-Conduza-me ao banho.
-Perca o juízo.

28.5.13

Um pouco de nós

Já nos cortamos de todas as formas.
Beijamo-nos de todos os jeitos.
Sorrimos com todos os dentes.

Fomos felizes.
Você é feliz.
Eu sou momento.

Tento sorrir.
Caio no choro.
Sinto teus lábios.

Acalento-me com o som
de seu desafinado violão
e com o pigarro de sua garganta.

Alegro-me por instantes.
No canto esquerdo de meu olho
escorre um pouco de teu mar.

Mar este que me inunda.
Me faz poeta.
Me faz penar.

23.5.13

Borboleteando

No voo sórdido 
de borboletas aporrinhadas.
Vejo-me bonita.

Suspirando de olhos abertos.
Desprezando a desgraça humana.
Sonhando com os pés no chão.

Faço-me de estrela.
De noiva doente.
De mulher insensível.

Bebo o amargo da vida.
Beijo lábios rasgados.
Trepo em fevereiro com santos impuros.

Viro-me do avesso.
Faço-me de morta.
Encontro-me louca pisando em teu solo.

22.5.13

Safardana

Uma safardana
de olhos amendoados
levou meu resto de coração. 

Fez de meu suposto amor um pecado.
Tragou meu ultimo cigarro.
Me deu um beijo borrado. 

Não disse nada. 
Me sugou com os olhos.
Bateu a porta., Partiu. 

17.5.13

Prosa, café e viola

Uma prosa de comadres.
Uma briga no terreiro.
-É muita fome pra pouco osso.

Um café servido quente.
-Deixe de ser matuta,
tome bença á sua madrinha.

Um choro triste de viola.
-Vem de uma casinha miúda,
de um moço infeliz que um dai sorriu.

16.5.13

Um breve amor

19 de maio de 2011 nosso primeiro encontro., Foi numa quinta-feira  de outono. Eu com os lábios avermelhados, óculos escuro e uma garrafa de Smirnoff “hot” na mão. Você sentado feito um índio, olhando meio que de  lado um pouco acanhado, porém bem penteado. Fiquei meio perdida, eu ali mini vestida sem saber como cumprimenta-lo.  Você logo deu um jeito, me presenteou com um beijo daqueles bem estalados. Fomos caminhando pelo verde pensando num outro verde. Falamos de assuntos tortos, de pedaços tristes de nossa pouca vida. Olhamos para o lago, pisamos na grama proibida, vimos um coelhinho e o imaginamos assado. (rs...) Fomos para o bosque, te apertei, te aliciei, você aparentemente gostou, me mordeu e me encoxou.  Depois de tanta bagunça entre as moitas saímos do bosque, atolamos o pé na lama, você ficou meio bravo, mas logo sorrio. Foram tantos beijos. Beijos fortes coisa nossa, capazes de sugar mel e amarrotar o carmim dos lábios. Depois disso nos vimos algumas outras vezes, te fiz café, te roubei beijos, fiquei com os bicos ouriçados, com os cabelos engrenhados e com as pernas entrelaçadas.  Dia 17/06 vai fazer um ano que não nos vemos, mas ainda lembro-me de teus olhos amendoados, de teus lábios invocados, de tuas mãos com cheiro de cigarro, de teu sexo, de teu Eu. Sinto falta das loucuras, das ideias, dos filmes bestas, das conversas mal acabadas, de tudo. Espero que um dia possamos nos rever, pois teus olhos escondem o segredo do mel e do fel. Cuide-se meu menino repente. 

Minister Parte 2

Após um cigarro e um café gelado sinto-me mais saudável, meio triste, mórbido um pouco apodrecido aporrinhado mas fisicamente bem e mentalmente triste. Raramente me balaço ou me atiço, vivo bêbado e desgraçado.
-ÓDIN...
Era só oque faltava, uma voz estridente me obrigando a vestir as calças.
-Só um instante., Pronto, Leda? 
-Quem mais chegaria gritando no corredor de um prédio caído com garrafas de cerveja Praga?
-Só você mesmo, entre. 
-Achei que nunca convidaria.
-Não seja boba querida.
-Deixe de papo, coloque a cerveja para gelar. 
-Com todo prazer.
Um sopro de menina me bateu a porta, me fez sorrir, isso é estranho, me sinto bem com uma moça que mal conheço, ela tão desgraçada quanto eu, me faz mais do que meu resto de whisky.
-Pronto.
-Finalmente, agora me dê um beijo com gosto de cigarro amanhecido.
Beijando aqueles lábios quentes com gosto de conhaque Napoleon, agarrando aquelas pernas fortes e amolecidas sinto-me num êxtase puríssimo, tão forte quanto amor ou orgasmo. 
-Senti saudade.
-Também, quer alguma coisa?
- Musica.
-A essa hora?
-Sim, ou prefere que teus vizinhos escutem meus gritos?
-Você não perde o bom humor.
-Não é bom humor é fingimento.
-Fingimento?
-Sim, tenho o costume de enganar a dor que se cravou em minha carne.
-Isso é meio insano, não?
-Talvez, mas agora esqueça.
-Tudo bem, que tipo de musica quer?
-Que tal um blues com uns solos de gaita?
-Perfeito.
Ver aquele corpo se contorcendo como quem quer mastigar mundo me atiçou os olhos, a cada rebolada torto um pedaço de pano florido vai para o chão.
-Vem, dance comigo, sinta a musica, sinta minha carne, sinta meu sexo.
-Não sei dançar tão bem quanto você mas seu convite é irresistível.
-Para com isso, vem logo.
Rodando feito um tonto com aquele corpo entre os braços sorrindo e indagando para o além muito me baqueou, a impressão é que tinha o mundo inteiro nas mãos. A pele quente com um fraco cheiro de cerveja entre seios, as mãos maliciosas correndo pelo meu corpo cansado, a fraqueza nos olhos, o amolecimento do corpo, a vontade intensa e insana rasgando a carne e contagiando o outro. Era um prazer único que saltava dos olhos.
-Vou pegar a cerveja 
-Vá, mas não demore.
-Me espere na cama.
-Como quiser benzinho.
Leda tem vários momentos, as vezes fala feito uma puta descabida e as vezes fala como uma doutora mãe de família. Estou gostando disso. Devo ser o tipo de pessoa que aprecia o podre e amarelado da humanidade.
-Pronto querida, deu um pouco de trabalho abrir a garrafa.
-Cerveja alemã não é do tipo que se abre nos dentes. Você tem cigarro?
-Sim, pode pegar.
-Fazia tempo que não sentia isso.
-Sentia oque? 
-O prazer de segurar um cigarro após uma dança de corpos nus.
-Você me faz bem Leda.
-Só oque faço é adormecer seu infortúnio.
-Não me importo com oque faz, só sei que me faz bem e as vezes isso é bom.
-Então deixe de conversa, me veja como sou, leve-me até o fim.
Aquele corpo por cima do meu falando coisas que mulher nenhuma falaria fez com que o mundo inteiro ficasse ainda mais insignificante do que realmente é. A vontade era de parar tudo, morrer ali, se acabar em um só corpo, como quem morre apaixonado ou desesperado.

13.5.13

Escárnio

Um anjo torto.
Desses que tocam bandolim.
Me se soprou no ouvido:
"Conforte-te com a solidão.
Beba de todas as fontes.
Engula o choro.
Esporre o mundo."
Hoje, sou escárnio.
Poeta.
Impuro. 

9.5.13

Nevruz

Um passado esquecido.
Um presente mal feito.
Um futuro desidratado.

Os olhos virados para o fio de luz.
As pernas cambotas viradas na cruz.
Sem nada de novo, sem nem um nevruz. 

6.5.13

Nostalgia

Saudade de tempo nu.
Quando corpos se entrelaçavam,
sem angustia ou dor.
Com as pernas  sujas de terra.
Os olhos manhosos.
Os seios duros, fartos e corados
são chupados pela linguá do poeta amado
que esconde entre os dentes falhos a desgraça 
de seu legado.
A lira toca, desfaz a dor.
As posições mudam.
A noite se acaba.
Os olhos se apertam.
As pernas se desenroscam.
O poeta acorda.
Caído na cama repara:
Tudo que sentiu, foi nostalgia.






1.5.13

Cigarra

Uma vontade desajustada.
Bate nos olhos do desavisado.
Tenho sorte por ser cigarra.

Reviro-me com a viola.
Faço lira de veias saltadas.
Contorço-me em ponte quebrada.