30.9.12

Fumaça de alecrim

Acendo o incenso.
Incenso de fumaça doce.
Doce alecrim. 
Alecrim da terra.
Alecrim do ar.
De tão doce e puro.
Virou fumaça
e purificou meu triste ar.
O ar infeliz que hoje é doce.
Doce feito alecrim.


Coração miúdo

Meu coração parece criança.
Não não sabe o que quer.
Mas mesmo assim, tudo quer.
Por tudo pede.
Por tudo chora.
Por tudo clama.  
As vezes se aqueta.
Mas nunca dorme.
Sempre tem tempo,
para um novo sentimento.
Meu coração tão pequeno.
Se faz de abrigo.
Abrigo de loucos.
Toscos.
Dementes. 
Coração miúdo.
É um abrigo para todos!


Brisa que virou vento

A brisa leve se mistura,
com meus pensamentos.
Pensamentos que fazem 
a doce brisa virar vento.
Vento forte.
Vento do tempo.
Rodopia.
Brinca.
E briga.
Faz de tudo seu momento.
Não descansa.
Não da paz.
Assopra  dizendo,
que prefere o caos!


27.9.12

Eu-lírico

Meu eu-lírico anda tão quieto.
Tão sem vida.
Tão sem luz. 
Respira por obrigação.
Vive calado.
Largado e pensando.
Aquele que fazia poesia 
até com espirro.
Não faz mais verso.
Nem rima.
E nem trova.
Hoje se resguardou.
O que houve com meu menino
de riso frouxo?
Talvez seja, falta de amor.
Ou falta de fantasia.
Ainda não sei.
Ele se trancou.
Se reservou.
Nem para mim nada contou!

26.9.12

Segredo de umbuzeiro

Umbuzeiro é arvore cheia de segredos.
Segredos fortes demais,
para jovens amarelados.
No umbuzeiro se vê de tudo.
Coito, cobra, aranha, morcego e calango.
Tudo isso ainda pouco.
Mais de mil cabaços se perderam 
na sombra de um umbuzeiro.
É tanta coisa, é tanto fogo, é tanto coito.
E quem não puder com os segredos do umbuzeiro,
que se contente com a farsa da figueira!


Galanteador

Crápula galanteador.
esconde em teus lábios 
mil beijos de dor.
Fez muitos sorrisos
que no final se acabaram em tortura.
Pobre moça que nada sabe.
Pelo beijo do menino ingrato se apaixonou.
Hoje chora.
Choro triste e amargurado.
A doçura da pequena infeliz,
se perdeu nos lábios do menino ingrato.
Hoje para ela o que resta é o azedume.
Para ele, nem isso!


Trapos de lembranças

Calço meu velho par de botas.
Cai bem com meu sobre-tudo surrado.
Saio pelo sereno de uma quase manhã.
Meus lábios roxos e trêmulos.
Minhas mãos se escondem,
em meus bolsos furados.
Caminho pisando em possas.
Possas que me ensopam.
Possas que me enfraquecem.
Me vejo em trapos.
Um triste trapo de boas lembranças.

25.9.12

Corpo sujo

O sujo de meu corpo,
não se compara com a imundice,
de minha alma.
Talvez nem seja corpo.
Talvez só seja sujo.
Talvez nem seja alma.
Talvez só seja imundo.
Sujo, imundo e ainda sim, puro.
Pureza não se encontra no corpo,
e muito menos na alma.
Pureza se planta na mente.
Mente demente,
que mesmo rodeada de
sujeira e imundice,
se sente tranquila e em casa!

24.9.12

Morena

Morena jambo.
Se enfeita com penas.
Se banha com flor.
Pela manhã é menina.
Ao entardecer vira moça.
E com o brilho da noite se faz mulher.
Morena dos seios fartos.
Dos lábios rosados.
E dos olhos pacatos.
É três em uma.
É qual quer coisa.
E não é coisa alguma.


23.9.12

Nudez

Nudez é arte.
O gozo, faz parte.
Escorre pelas pernas.
Se acaba na boca.
A quentura dos corpos,
promove uma dança.
A dança dos loucos. 

22.9.12

Mágoa de mamulengo

Mágoa de mamulengo.
Atribulação de momento.
Tortura, tormento.
Vem com o vento.
Vai com o tempo.
Faz de tudo um acalento.
Fez do mundo seu rebento.
No final, se acabou em relento.
Relento, cruento.
Sangrento.
Sedento! 

21.9.12

De tanto que choveu

Choveu tanto.
Nem saí de casa.
Medo de me molhar.
E me desmanchar.
Sou de açúcar.
Não aguento chuva.
Me tranquei no quarto.
E observei as gotinhas na janela.
As poças no quintal.
E as flores no jardim.
De tanto que observei a chuva.
Me entristeci.
Não pela chuva.
Mas por mim.
Larguei a tristeza no quarto.
Desci as escadas correndo.
Levei uma queda, levantei.
Corri para chuva.
Abri os braços.
Fechei os olhos.
E rodei até cair.
Me senti tão bem.
E acabei me desmanchando,
em prazer.
Prazer aguado.
Prazer molhado.
Prazer meu!

20.9.12

Guardanapo

A taça caída.
O guardanapo marcado.
O cigarro acabado.
Só o que restou, foi a bituca perdida.
Tratei o breu de minha alma com:
Vinho, tabaco e choro.
Vinho para esquecer.
Tabaco para me conformar.
E choro para me purificar.
O batom que foi gasto em guardanapo.
Poderia ter sido gasto em teus lábios. 
Tudo se acabou.
Até o choro secou.
O que sobrou foi a bituca.
Bituca que tragarei até queimar meus lábios.
Lábios que foram abandonados por tua boca.
E consolados por um guardanapo!

19.9.12

Adeus

Um tchau ingenuo.
Partiu sem olhar para trás.
Deixou ali um vazio enorme.
Fez de meu peito um buraco.
Minha mente virou zona.
Minha carência me cegou.
Nos usamos e reusamos.
Me apeguei e você partiu.
Meus olhos voltaram a lagrimejar.
E minha minha cabeça, 
volto a latejar.
Não espero que volte.
Quero que continue a Andar.
É só mais um.
Só mais um simples
e ingenuo adeus!

18.9.12

Corvo

Um portador de mal presságio.
Pássaro doce e amável.
Canto perturbador.
pássaro de horror. 
Horror ingênuo.
Horror de dor.
O caos tempera,
as zonas por onde passa.
O caos não é do corvo.
O caos é de todos.
A beleza da plumagem negra.
O sofrimento de teus olhos.
O sangue que arde em tuas veias.
O corvo é só mais uma vítima.
O corvo não é horror.
O corvo é amor!

17.9.12

O vulgar é a moral

Se não sabe ser vulgar,
não sabe ser poeta. 
A poesia é a libertação.
As vezes é cinismo.
Mas sempre é liberto.
Brincamos com a vulgaridade,
como quem brinca com o tempo.
O vulgar é mal interpretado.
Não faça de suas vontades um pecado.
Se for preciso, vulgarize.
Mas nunca deixe de fazer o que te faz bem,
por conta da moral dos outros.
Faça da vulgaridade sua moral!

16.9.12

O conto que virou prosa

Não sei de onde vim.
Não sei para onde vou.
Sei que por agora,
aqui estou.
E é isso que importa.
Vou viver minha vida,
Antes que a morte 
bata a minha porta.
Estou só.
Só a rememorar.
Lembro-me de tudo.
Bom, ruim.
Alegre e triste.
Tudo em minha mente passa.
O que ficou foi o moço louro 
do sorriso farto.
Arrepios, vergonha, suor, desejo,
malícia e um pouco de medo.
Tudo isso guardado em segredo.
Segredo que se libertou
e me libertou.
De tanta liberdade,
acabei voando.
Mas voei em direção oposta.
Hoje só o que me resta é rememorar.
Pois pássaro muda de ninho
a cada estação.
E borboleta um dia sai do casulo.
Talvez para mostrar sua beleza.
Beleza de um único dia.
Minguada e bela.
Feito nossa breve história.
História que de tão pequena,
 virou conto. 
Um conto que de tão miúdo 
se acabou em prosa.

(LETICIA BORGES e ARIANA CASTRO)


A flor que virou fruto

A flor de maracujá, resolveu se apaixonar.
Cansou de mal me quer.
Ela agora quer namorar.
Beijou Zangão.
Beijou Formiga.
Por nenhum, se apaixonou.
Conheceu o Beija-flor,
e por ele se encantou.
Quando deixou de ser flor.
O Beija-flor á abandonou.
Saiu voando e provando
beijos de sete cores.
E a flor que virou fruto.
De tanto choro,
virou suco!




14.9.12

A noite nos pertence

Toda escuridão.
Toda mistério.
Toda nossa.
A noite nos pertence 
meu bem.
Se deite na grama.
Olhe para a lua
e enxergue o além.
Faça da noite 
um pedaço de ti.
Venha com 
toda manha.
Mesmo sabendo 
de minha malicia
me chame de menina.
Me abrace forte
e deixe que o sereno,
seja nosso manto!

13.9.12

Só não vale o desamor

Nos perdemos em nós pernas.
Sua barba me arranha.
Teu corpo arde.
Tua boca de brasa me queima.
Beijo doce.
beijo pimenta.
Tuas mãos atrevidas apertam meus seios.
Percorro teu corpo com minha língua.
Entre múrmuros e gemidos,
surge um pedido de silencio.
-Pode acordar os vizinhos. 
Eu que perto de ti
nada penso.
Solto gritos e grunhidos
com mais força do que nunca.
Para nós tudo vale,
só não vale o desamor!


12.9.12

Azul e rajado

Tirei o azul do céu
e coloquie no tigre.
Tirei a listras do tigre
e coloquei no céu.
Meu tigre azul
e meu céu rajado.
Tigre trovador.
Céu feroz.
O tigre chora 
e faz chuva.
O céu, se banha na lagoa.



Sangue do mundo

O sangue de meu corpo acabou-se.
Não me resta mais nem uma gota.
O que corria em minhas veias foi derramado.
Derramado como lágrimas.
Derramado de meus olhos.

Uma ferida profunda.
Não foi de amor.
Amor não fere.
O que fere é o desamor.

Meu sangue quente,
virou lago.
Lago que corre,
por toda frieza do mundo.

Talvez a pureza desgraçada 
de meu sangue,
ajude a combater a imundice 
do mundo gelado!

11.9.12

Brasa

O vulcão em erupção de meu corpo,
virou fogo na mata.
Meu fogo virou,
fogueira de são joão.
Minha fogueira virou brasa,
e minha brasa,
virou brisa.
Brisa leve.
Brisa calma.
Brisa brasa!



10.9.12

Palhoça

Palhoça pequena.
Amor aos montes.
Sete crianças.
Um pai cansado.
Uma mãe pacata. 
E uma vó doente.
Três vacas leiteiras no jirau.
Um cão raquítico, bom de caça.
Meia dúzia de galinha caipira.
E uma égua preta, que era o xodó do pai.
A mãe fazia farinha.
O pai pegava preá.
E a vó que tanto agoniava,
ficava esparramada na esteira,
esperando a morte chegar. 
As crianças brincavam e brigavam.
Vira e mexe se estrepavam.
Em noites de lua amarela,
o pai pegava a viola,
cantava pra mãe e cantava pra lua.
Declarava amor eterno e até falava  de seca.
A paz ficava lá escorada num pé de umbu,
pitando um cachimbo e apreciando a cantoria!





9.9.12

Meu pecado


Sai da cama.
Abri a janela.
Olhei para o céu.
Um céu cheio de formas, cheio de cores.
Me lembrei dos velhos amores.
Que me causaram espanto.
E no meio desta noite,
conclui que:
Minha vida foi baseada em prazer falso.
Coisa pouca.
Mirrada, coisa falsa.
Quase nada.
talvez você seja diferente pois,
sempre o notei centrado.
Um homem calado dificil de decifrar.
Diferente de mim,
que entre tequila e gim,
deixo-me levar.
Faço de teus olhos
meu céu
e meu mar.
As vezes saio voando
e as vezes boiando.
Mas o que de errado há?
A errada sou eu.
Pois sou vento,
bagunço terra, céu e mar.
Me perco em todos.
Mas me prendi em teu olhar.
Seu sorriso acanhado.
E sua voz de trovador.
Em seu sorriso,
é possível notar,
um coração machucado.
Querendo se privar,
dos bons sentimentos,
que tenho,
para lhe dar.
Faço de teu sorriso malicia.
Sorriso erótico, coisa minha.
O acanhado excita e recita.
Faz poema até com pedra.
Não quer amor, mas é amado.
não rejeite meu pecado,
só aceite e peque ao meu lado!
(Ariana Castro e Leticia Borges)

7.9.12

Cerrado

Sertão, terra de suor e sofrimento.
Terra de homem trabalhador.
Se cria com mandioca e as vezes um lobó.
A vida é feita de pau torcido.
Seca que mata.
Seca que cria.
Quem cresceu comendo mandioca e lobó,
é cabra forte.
Cabra da peste.
Cabra bruto.
Não tem estudo.
Nada de nobre.
Tudo de pobre.
Acorda com a miséria dando bom-dia.
O sol bate na testa e anuncia um novo dia!





Alma livre corpo trancado

Sou um pássaro.
Pássaro de gaiola.
Pássaro que vê o mundo,
pela brecha de uma janela.
O orgulho de meu dono
é ouvir meu canto tristonho.
Canto que o faz feliz.
Canto que me faz consternado.
Sou um pássaro de  alma livre,
e corpo trancado.
Minha vida é triste,
pois meu sol é quadrado!



Exagero de lucidez

Minha cabeça.
Cabeça que pulsa
mais que veia.
E que bate 
mais que coração.

Eu sou fraca.
Não me aguento de dor. 
Lateja aqui.
Palpita acolá.
Perco  as estribeiras.

Fico ainda mais louca.
Sou louca de corpo e senso.
Sou uma louca com dor.
Se dói é porque sou lucida.
Meu exagero de lucidez é oque causa minha dor!




6.9.12

Coração vagabundo

Meu coração vagabundo.
Saiu vagando pelo mundo.
Trocou meu peito.
Pelo teu.
Seu coração frio e sem vida.
Hoje está acompanhado de minha quentura.

Quentura que agora vive em ti.
Meu coração se encanta fácil.
E se desencanta mais fácil ainda.
É provável que ele te abandone.
Mas não se revolte com meu coração.
Coração andarilho.
Que troca de peito.
A cada primavera.

Coração que se agonia.
Se aperta.
Não se acostuma. 
Quer sempre mais.
Coração cigano.
Faz de todo canto.
Seu canto.






5.9.12

O anjo sou eu

O anjo que me acompanha é louco.
Faz tudo que não pode.
Pensa.
Reclama.
Clama.
Resmunga.
Respira.
Reage.
E arranha.
Briga.
Me xinga.
E apanha.
Anjo imoral.
Anjo louco.
Anjo meu.
O anjo sumiu.
E só ficou eu!



Punhal de prata

Fui dedicação para o moço do punhal de prata.
Ajeitei.
Amei.
Cuidei.
Confiei.
Alimentei.
Fiz o mar virar céu.
O sol virar lua.
A cidade virar sertão.
E eu virar amor.
Não satisfeito
tirou meu sangue.
Me dilacerou.
Me fez de nada.
Me tratou com carne.
Carne morta. 
Carne Fria.
Carne sem sentimentos.
Sempre fui menina.
Mas depois de ser apunhalada,
qualquer menina vira carne!

4.9.12

Decifra-me?

Não tente me decifrar.
Pois nem eu sei quem sou.
É perigoso, faz mal e limita,
meu senso de loucura.
Não sei se sou certa ou errada.
Sei que sou o oposto de uma esfinge.
Não quero ser decifrada.
E quem ousar tentar, 
prepare-se para ser devorado.
Pois sou um ponto de interrogação,
que não precisa de resposta.
E sim de mais perguntas!

3.9.12

Desgraçado amado

Desgraçado, a mais intima,
declaração de amor que recebi.
Tão verdadeira e cruel.
Mas com choro é amor.
Tristeza.
Rancor.
Verdade.
Choro.
Amor.
Falta lucidez talvez.
Não sou louco.
Sou apenas: Um desgraçado amado!

2.9.12

Mormaço

No mormaço caótico de minha vida.
Ainda faço o sol de perola.
Perola do encalço.
Perola de luz.
Não sei se é luz do sol.
Ou luz de mim.
Sei que é tão forte,
que agoniza meus olhos.
A luz caótica que faz mormaço,
é luz de fogo é luz de mim!




Acenda

A fumaça de minha cidade.
Vai de sul a norte.
A nuvem clara do céu.
E a espuma branca do mar.
Agora são cinzas.
Cinzas feito a fumaça.
Fumaça que sai,
da chaminé da fábrica.
Por que tanta fábrica?
Por que tanta fumaça? 
Seres sem saúde.
Amores com pavio.
Fogo sem paixão.
Amor com solidão.
E charuto apagado.
Apague a fábrica,
 acenda o charuto,
e se sinta bem,
por alguns minutos!

1.9.12

Quero

Quero copo.
Copo de leite quente.
Copo de leite flor.
Quero leite.
Leite de tetas.
Leite de soja.
Quero leite.
Quero copo.
Quero tetas.
Quero soja.
Não quero nada. 
E quero tudo.
Quero-quero.
Quero não querendo.
Sou inconstante.
Mutável.
Variante.
Variável!

Amigo pateta

Amizade de loucos.
Amizade lucida.
Dementes e patetas.
Choram com a beleza da lua.
Gargalham com o raiar do sol.
Vivem curtidos no álcool.
Respiram a musica, 
o amor e a poesia.
É amigo é pateta.
Somos patetas.
Talvez dementes.
Vamos do A ao L.
Você é vogal.
Eu sou consoante.
Você é vida.
Eu sou morte.
Somos opostos ligado.
Somos opostos porém amigos!