28.12.12

Bordado

Nada de remédio ou cigarro.
O alucinógeno é minh'alma. 

Arranco minhas pregas vocais.
Com elas bordo.
Bordado de mil flores.
Mil faces.
Mil façanhas.

Entrego o bordado de caos aos loucos.

Para mim:
O silêncio, mais que absoluto!

27.12.12

Negrito

Olhar frigido.
Suor sem sal.
Corpos gélidos.
Poças secas.

O suposto amor,
acabou.
Não restou nem dor,
nem flor.

Ficou um nome.
Nome em negrito,
que logo se rasgou.

26.12.12

Contra-fluxo de mundo

Lançada no contra-fluxo.
Sem rumor
ou amor.
Me mastigo.
Me degusto.
Me engulo.
Respiro fundo.
Volto a superfície.
E mais uma vez,
me perco no mundo.

23.12.12

22.12.12

20.12.12

Solidão é lucidez

Solidez e fumaça.
Uma boa companhia,
para um corpo cansado.
A mente se perde.
Alucina.
Grita.
Pede choro.
Mas logo se encontra. 
Repara.
Pondera.
Abandona a loucura.
E se encontra na suposta lucidez.

17.12.12

Enquanto o pudor dorme

Pernas confusas.
Entrelaçadas.
Suadas.
Molhadas.
Cansadas.
Mãos que amassam seios.
Lábis que  pedem beijo.
O pudor dorme.
A boca grita. 
E tudo atiça. 



16.12.12

Infinito finito

Nosso infinito saio pela janela.
Pairando pelo mundo.
Se perdeu na imensidão.
Estamos empoeirados.

Nada de campos verdes.
Corações florindo.
Estômagos borboletando.
Pelos se ouriçando.

Nosso infinito particular,
virou finito.
De tanto que pairou.
Um dia se acabou.

Longe

Anda tão longe.
Tão apagado.
Quase não o vejo.
Só sinto o cheiro.
Cheiro de flor.
Flor do campo.
Dessas bem excomungadas.
Miúdas.
Vagabundas.
Cheias de muito valor.
Nada de vintém.

14.12.12

Corpo que chama

Falta de pudor.
Excesso de vinho.
Minha carne avermelhada.
Pulsa.
Arder .
Quer.
Clama.
Grita aos ventos.
Não quer acalentos.
Quer outra carne.
Outro fogo.
Outros lábios!

12.12.12

Carne do mundo, escarro da alma

Sou poeta.
Desses bem desvalidos.
Desses, que não valem um vintém.
Sou a carne do mundo.
Escarro da alma.
Sou aquele que conta vida.
Vida de quem ama e cambaleia.
Um bêbado insano.
Cheio de podridão.
Sou homem.
Mas antes de ser homem, 
sou poeta!

11.12.12

Conta gotas

Salivas trocadas á conta gotas.
Beijo contado.
Não passa de cem.
Todos largados nos lábios.
Lábios vadios.
No mundo da carne rodou.
Deu piruetas rodopiou.
Mais uma vez desatinou.
Se desmanchou. 
Se entregou.

10.12.12

Lichia


Chá doce de lichia madura.
Artemísias a florir.
Abelhas no jardim.
O vizinho da frente,
toca uma modinha.
Destas bem bonitinhas.
Tudo em linda sintonia.
Só me falta teu sorriso.
Sorriso alvo e cheio de manha.

9.12.12

O boêmio

Me perco na noite.
Cambaleio sem norte.
Me encontro no amor. 
Amo com todas.
Sem nenhum pudor.

Moças vulgares.
Mulheres feitas.
Virgens de sonho.
O maior dos romances.
Ou uma só noite...

Viro a taça.
Saio do bar.
Caio na vida. 
sem medo da morte.
Sou um moço sem sorte.
E vivo a cantar!

7.12.12

Nosso

Sinto teus passos.
Firmes.
Seguros.
Cheios de razão. 
Razão nula.
De nada serve.
Me faz mal. 
Me entristece tua certeza.
Certeza fraca.
Faço cena.
Não quero o fim.
Não quero o não.
Quero este nosso incerto.
Este errante.
Este errado. 
Este nosso.

6.12.12

Café, Gilberto e cigarro

Tomando café.
Ouvindo Gilberto.
O gato ronrona.
A chuva cai.
A boca queima.
Faz bico.
Pede beijo.
Cantarola o desamor.
Fala de dor.
Arruma o cabelo.
engole o café.
Fuma o cigarro.

Lágrimas coaguladas

Sorte das nuvens que podem chorar.
Triste de de mim, que não posso aguar.
Os olhos, se controlam. 
Mas os lábios tremem.
As lágrimas, coagulam.
As veias, pulsam.
Tudo se agita.
Mas o choro, trava.

5.12.12

Menina abstrata

Sou aquela abstrata.
Sem pudor ou rancor.
De vida triste mas cheia de sorrisos.
De alma inquieta.
Corpo mole. 
E muito amor.
As vezes sou forte.
As vezes sou menina. 
E as vezes, não sou nada.

Estragados e apodrecidos

Acordei com o azedume nos lábios.
Gosto de teus beijos.
Beijos estragados e apodrecidos.
Sem vida.
Sem amor ou dor.
Vivo com teu azedume.
Gosto ruim, que nem o vinho disfarça.

4.12.12

Olhos para o nada

Os olhos abertos.
O sonho acabou.
A flor secou.
O dia chegou.
O real despertou.
Nada mais é sonho.
Nada mais é doce.
O belo se transformou.
Hoje é feio.
É pouco.
Não é nada.

3.12.12

Teu cinismo

Deixa de birra.
De bico.
De manha.
Desamarra esta cara.
Me faz um samba.
Destes bem moderninhos.
Destes que só faz sorrir.
Destes que esconde o choro.
Me beija.
Me morde.
Me arranha.
Só não chore.
Pois teu cinismo,
é meu consolo. 

2.12.12

Chá, manha e saudade

O chá de laranja me faz rememorar nossas noites de junho.
Noites frias e cheias de doce.
A cada sorvida, uma lembrança.
Recordações que o tempo não apaga, 
mas sufoca com o passar dos anos.
As paredes estão frias e acinzentadas.
Me recordo de teu sorriso, choro.
Choro de menina.
Cheia de dengo e manha.
O cheiro das flores recentemente cortadas, frescas.
Repousada sobre a mesa,
me faz lembrar a fragrância dos teus cabelos.
Cabelos negros e compridos.
Foram tanta manhãs emaranhada em teus cabelos.
Manhãs preguiçosas, cheias de café e beijo.
Manhãs livres, sem culpa, onde o amor era a nota mais alta.
Teus lábios eram doces, rosados e acalentavam meu ser.
Ser que é só.
Sem lábios, cabelos, pele ou amor.
A solidez que me acompanha, tem seu nome.
Nome que me dilacera a cada lembrança.
As paredes ecoam o teu nome.
sussurros em minha mente.
Estou me deteriorando,
nem uma alteração visual por fora.
Silêncio, tranquilidade e sorrisos perfeitos.
No entanto, há um barulho e espasmos aqui dentro.
Nada é suficientemente capaz de suplantar a dor da ausência.
             
                                     (Souza Gomes e Leticia Borges)

Sol, suor e flor

Fiz de meu domingo cinzento,
um dia de esplendor.
Repleto de sol, suor e flor.
Flor carmim.
dessas que não se vê por ai.
Suor salgado.
Destes que a gente sente no mato.
Sol, cheio de vida.
Vida valorizada e muito bem vivida.

Chorinho

Ando desiludida aos bocados.
O olhar de menina, secou.
A trilha sonora da vida, parou.
O sorvete, derreteu.
O doce, se acabou.
Ficou o amargo.
Amargo copo de desilusão.
Viro um por dia,
e ainda peço chorinho.