31.1.14

Dialetando

Não se iluda com meus gestos.
Aqui; é só matéria:
Carne, ossos, varizes...

Alumie-se com minhas palavras.
Elas saem sorrindo, suspirando 
ou até mesmo; agonizando... ando, ando...

Sustentando-me no fim;
Carrego a mentira na carne.
A tristeza nos olhos.
A saliva na língua.
E a verdade, diabo torto que me persegue;
Esta eu carrego na fala amuada
de minhas ruídas palavras.

29.1.14

Carinhoso

Apalpe as ancas.
Brinque com o calor dos corpos moídos.
Escorregue no suor que escorre 
entre a fina pele e os ralos pelos.

Toada, ruído, múrmuro, silêncio:

-O menino dormiu sorrindo
entre as pernas da moça que não dormiu,
mas sorri ao sentir que teu resto mundo dorme
bem ali...


26.1.14

Valhacouto

O que soprou em tua madrugada
partiu de meus partidos lábios:

-Um convite que bate em tua nuca 
em forma de sereno matuto.

Aboleta em minha pele 
essa dor que você 
tenta esconder por detrás 
de lentes antirreflexo.

Permita que meu estado babélico
desajuste as poucas letras 
que marcaram-te o palato.

Desate as fitinhas de meu vestido
por grado e descoco.
Não só em sonho,
mas em carne, pele, saliva e gozo. 

Não se acabe na saudade de um desamor. 

Cá estou: 
Entregando-lhe em forma valhacouto 
 meu amago e sempiterno amor.



21.1.14

Nos teus lábios

Com todos os pecados 
Rasgados e resguardados,
Num fundo empoeirado
De uma gaveta vazia
Num riso estrangulado.
Sem se importar que diabos
Passa-se além do mar.

Como um beijo revogado
Seus olhos lacrimejam,
As luzes almejam se apagar.
O vinho ardente nos lábios
Uma última carícia,
 Um último sussurro.

Sopros de palavras cruas,
Que saltam da faringe,
Como um vulto de um
Corpo supostamente amado.

A bruma fria a nos envolver
A brisa negra a nos dizer...
O medo, a angustia.
 Um abismo. Sufoco!
 A pluma lá a voar;
Aquela que nunca vou alcançar

Pois meu desejo
É um filme italiano,
De notas e sangue.
Que me afasta
Das ilusórias pernas
De um corpo feliz e finito.

Numa colina; sorrio!
Uma lágrima acaricia-me.
A face gelada de uma noite.
O copo vazio na mesa
Absorvendo energias,
Alimentando-me. Doce!
É o fim, tudo acaba.

Só oque fica é teu nome,
Dilacerando-me
Feito um cutelo amolado
Por um deus que não dança.

E na fogueira vejo as tristezas
Como os olhos de criança
Vejo a morte, que nem um dia descansa.
Vem, enfim a mente entorpecente.
Uma gota de sangue na rosa
Torturada, mortal, carente.

Por não ter na pele fria,
A dentada daquele que tem fome
E ainda sim:
Renegou do pão.,
Do beijo.,
Do vinho.,
Do instante...
                     (De Igor Maion e Leticia Borges)

19.1.14

Manga

Purpurando e putrificando 
a ideia nula e ilusória de SER.
Num olhar nu e impar
que por agora; sorri.

Degustando a pele morena
do moço aguerrido.
Que sem saber, faz louvor
a um santo que vive de alvitre.

Encontra-se no seio doce, 
manga espada: 
Quem puder que abra a boca...

mas cuidado moço verboso:
A manga é doce como a palavra.
E biltre como o poeta.

16.1.14

Fugere urbem

Aqui jaz um lírio lírico:
                           Sem sexo,
                                         Nexo.
                                             Epitáfio
De geração que ressona;
                             Como cobra em fogão de viúva:
Dorme,
      Se cria,
             Inspira,
                   Suspira...
                           Rococó indigesto.
                                                 noite.
                                                         dia.
Num corpo nu.
                  Escupido de carne.
                                         Escarro.
                                                Descaso.
                                                        Concreto.

Arrelia



Palavra leitosa
escorre no canto raso 
da boca de quem labuta por beijo.

Estradeiro de passo miúdo.
Sem idioma ou dialeto.

Alvéolo de mel de oropa.
Peneirado de carcará.
Seriema no pé da serra, 
atontando de tanto gritar.

Não é só mais um filho de Maria.
Pai sem nada na mão;
deu asa, veneno e esporão.

Pra come o mundo
e seus criadô
com  mandi e beiju.

Depois do segundo canto;

Banhar o coro gasto com água salobra.
Abarcar a morena tinhosa.
Debulhar as cordas de aço...

Galopar num dorso cru.
Alumiar os olhos com fogo de vida.
Tampar os poros,
com um sopro de morte.

7.1.14

Morrerá por ser eterno

Levo na mala vermelha
cantos de terra batida.
Dez cordas de aço sofridas.
E uma patativa,
que está ali por momento.

No peito carrego teus olhos.
Aquela meninice:
Voz aguda.
Lábios torcidos.

Morrer por ti?
Nunca!

Morrer por teus olhos?
Faço isso enquanto suspiro.

Mas sempre volto;
Só para ter o gostinhos
de erva e cachaça
atravessando e atravancando
minha garganta mais uma vez.

Pois morrer pode ser o fim.
Ou quem sabe;
A tramela da porta
de uma vadia em cetim
que te arrasta para á eternidade.

2.1.14

Apiáceae

Sirva-me com dois dedos de cicuta,
Uma poesia falha,
Um canto podre.

Não estou aqui para dar ou receber conselhos.
Estou aqui para cuidar das pontas de teu bigode em flor.

Vamos; dê dois tragos.
Uma dentada nos lábios.
Um enroscar de pernas.

Taí, tua coragem sem sorte
dando cria mais uma vez.

Esqueça teu deus pagão
que ilude os teus olhos com a morte. 

Pague teus pecados com pinga.
Ajoelhar-se? 
Só se for para favorecer teu gozo 
e de outro.

A cruz está ali:
Prata.
Pólvora.
Corpo.
Ódio.

Não aceite documento,
pai ou mãe.

Queira mais.
Não queira nada.