29.11.15

A quebra do parafuso I

 

Como dar nome ao desconhecido?
Arrumar titulo para uma história com um só paragrafo.
Ser alguém, antes mesmo nascer.
Se corromper entre os tatos
e ainda sim ser um.
 
Hoje estou matando o meu nome,
Sim, a ideia do quê estou sendo
prevalece viva, porém multável
e sem definição.
 
Com algumas amarras,
um coraçãozinho pobre e sentimental
e cores nos olhos marcados.
 
Sou a florzinha dos poetas murchos.
O triste fim das princesas bem casadas.
A boneca de trapos que não sabe da morte...

28.11.15

Lute!




















 Patético falar sobre lutas 
Quando tudo é falso 
Inclusive a indignação. 
Poupe-me dos gritos supostamente revolucionários.
A mudança externa, depende da mudança psicológica de cada indivíduo. 
Não somos de papel.
A história foi escrita com tinta pastosa. 
Fazer para o meu agrado ou para o agrado de tantos? 
E se isso não me faz bem e eu me sinto cansando, 
é realmente essa a minha luta?
Gritar para o mundo uma coisa e querer outra. 
Abrir mão de um querer, 
não é ser forte. 
Ir pela massa que se diz pensante é fácil.
Quero ver se dizer um,
assumir seu egoísmo e dar a cara à tapa! 

27.7.15

Sem giros ou grilos

Flutuando nas finas anáguas,
além mar.
Engolindo palavras,
sendo um,
morrendo à toa.

Sou todas as sensações.
No fundo sou raso,
ponto de uma ideia em flor:
Confuso por existência.
Profundo por ser um mundo.

Planeta vago,
sem giros ou grilos...

16.6.15

Passando...


Agora amarrada ao tempo.
Sem a desculpa de ser menina.
Me intitulo vespa demente.
Voando para lábios manchados.
Deixando no espaço
resíduos de antigos versos.

Com o perdão da língua:
Sou criança cadente.
Com brilho de estrela roída.
Beijando cantos minguantes.
Sorrindo pouco.
Engolindo o mundo com os olhos...

Estou no agora, 
no quase,
no instante,
em você.

Num descuido de sentir, 
me tenho em frangalhos.
Com o coração na garganta,
a ideia nos pés
e um nome engolido.

5.5.15

Não só os dias

Vagando entre ideias soltas
que saltaram já filtradas
do seu canto de boca.
Roendo não as unhas,
mas os tocos pensamentos
envelhecidos em olhos avermelhados.
 
Anjo dorido,
que não murmura o bom da vida.
Respira em mormaço,
por obrigação instantânea.
Preguiça de meus poucos dias...

Ponto cruz

Para o conforto de meus olhos,
decidi não contar as estrelas.
Não por verrugas no dedo
e sim por fadiga.
 
Bordada em lençol branco de cama,
sou flor!
Por agora é o que sou:
 
Flor bordada em ponto cruz
no lençol branco
de nossa estreita cama morna.

2.4.15

Mais que mutável



Sinto uma veia de leve
pulsando no meu queixo arredondado.
 
Provo o inútil, 
o nada arrepiando
os nervos das retinas.
 
Tenho medo do presente.
vejo pedras que não choram.
 
Me espanto com as vontades,
ideias, desleixos e frescuras.
 
A fome de mudança
não suporta subir nos ombros
dos velhos lideres.
 
É preciso movimento,
cores, amores e vontade...

1.4.15

Nos afogam, gelam os ossos

Entre os falhos dentes, filetes de beijo,
saudade do tempo de riso, do verso atropelado.
Filetes de beijos perdoam suicídios,
mas há um delírio de saber até onde...
 
Pingado doce de leve nos lábios,
reparando a imensidão do tempo,
curtindo o desejo oculto de morte,
que sempre aparece nos dias vagos e nas noites vagarosas,
Mas o ar falta, como se só nicotina se respirasse,
no intervalo dos tragos, um suspiro...
 
Lembranças torcidas, retratos amarelados,
nomes abafados e cirandas nuas, largadas no espaço.
Amanhecer era tudo que precisávamos,
mas o que menos queríamos.
 
Temos um relógio de ponteiros brutos,
amarrados em nossos passos, tudo é largo, lato
e muito pouco

A transformação é de moer as ideias,
sem tempo para roer as unhas ou dizer que sim.
Sim, vai doer, não, é insuportável, vamos fugir, e rir, muito e muito,
 deixar as lembranças como algo que passou, sem feridas, sem porres....
 
(De: Maria Lucia Jeunehomme Borges e Leticia Borges )

7.3.15

Nas penas do concriz

Imortalizada num corpo de concriz,
sou pássaro de pensamento delicado
que se perde no frio sentimento
da raça humana.
 
Olhos já torcidos,
que não percebem quem chora.
ideias falhas,
que reproduzem a demência da espécie.
 
No fundo sou fragmento,
pedaço gasto de emoções passadas,
que se desfaz num tom lilás
e se distrai na imensidão desses teus olhos.


Carregada e vagarosa

Lembro-me de ti
como quem se lembra
do limo verde nas pedras.
 
Das quedas de nossos desencontros,
dos olhares mareados,
cansados e avermelhados...
 
Eu com este meu sangue
adoçado por lusos,
te bebo e te amo.
 
Mas não dum jeito leve.
Sem fazer média.
Carregada e vagarosa.
 
Nuvem em formação
que por descuido
desagua antes do tempo.


27.1.15

Registros

Farejando os restos de versos.
Cuspindo na cara, no coro...
 
Olha no olho,
repara nos dentes.
 
Língua que te lambe,
registra o movimento,
o dialeto,
o diacrítico.


Ventania

Não te nego nada,
mas não tenho costumes,
não faço promessas.
 
Nasci no tempo das flores,
na agonia das ostras,
num dia minguado.
 
Tenho por ti
todos sentimentos sem nome.
Todos os sonhos jogados.
 
Velhos fatos,
trovas cotidianas,
cantigas que te cantam...
 
Dê-me o teu ouvido
quero sussurrar a prosa do vento,
o delírio dos dias,
o silêncio do beijo.