29.9.13

Capitolina

Como pudera duvidar de meus olhos?
De minhas caricias?
De meu amor? 

Logo eu,
que entreguei-lhe num decote,
tudo que tenho de bons sentimentos.

Será que não compreende que a carne nada é?
Que oque vale é mais profundo que um querer?

Abra teus olhos.
Esqueça dos meus.

Nunca lhe trai em sentimento.
Sempre pertenci a mim
e por tempo indeterminado,
emprestei-me a ti.

 (Baseado em: Maria Capitolina Santiago)

28.9.13

Clave de Fá

Som grave. 
Cordas grossas.
Dedos calejados.

Um debulhar em Fá.
Blues antigo.
Desmilinguido.

Que vem soprar em meus ouvidos.
Para me ensinar 
oque é amar. 

(Para meu irmão mais que amado Jefferson Gonçalves)

26.9.13

Bem-te-vi

Suspiro de dor.
Cigarro entre os dedos.
Andar dolorido:

-Bem-te-vi.

Choro guardado.
Beijo de mãe. 
Carinho esquecido:

-Bem-te-vi.

Olhar para o mundo.
Com os olhos pagãos.
Que de tortos apreciam o pouco:

-Bem-te-vi...

22.9.13

Sonho solo

O rosto marcado 
por espinhas internas,
pelos encravados
e marcas de trinta. 

Homem bêbado.
De olhos vermelhos.
Sorriso amarelo.
Ideias carnívoras.

Querido e desejado 
pelos olhos fotográficos 
de menina.

Uma torta.
Mulamba.
Faminta.

Que de um sonho despertou.
Despida de panos.
Repletar de amor.

15.9.13

apontamento

A vontade um poeta.
Um beijo de amor eterno.
Um pecado atrás do muro.

Esculpidos de escarros.
De mulambos.
De desacatos.

Nada ali é para sempre.
A vontade muda.
O novo apodrece.

E o que ontem foi 
sonho melindroso 
de menina que não chora.

Hoje é comida.
Pedaço.
Trapo.  

De uma velha roída.
Sem cheiro
ou sabor.

Que de tanto que rezou
entregou-se de vez
a seu senhor.

7.9.13

Invitação

Ó criança de lábios rosados.
Por que fizera mal á quem tanto lhe repara?

Não percebes que a timidez destrói 
os prazeres da alma? 

Deixe o mundo para os mortais.
Sacie teu desejo, prove de meu gosto.
Meu gozo.
Meu beijo.

Sinta todos os meus pecados.
Minhas agonias.
Minhas caricias.

Seja quem você sempre sonhou:
Ator.
Atoa.
Artista.

Tellus

Apresento-lhes uma mente roída.
Uma boca aberta.
E um casal de olheiras.

Sou aquela que muito ama.
Muito quer.
Pouco se apega.

Dispenso o belo bem feito.
Aprecio a cicatriz.
O pecado.
O errado.
O doído.

Guardo em minha pele 
A desgraça de todos.
Pois é de sofrimento.
que se alimenta um poeta.

1.9.13

Desajuste de menina

A pequena bailarina desajustada.
Vestida de rosa.
Pouco sabe da vida. 

Se diz cínica.
Impura.
Poeta.
Puta.

Mas não passa de uma pluma.
Uma criança.
Uma boneca de carne e sonhos.
Que tortura-se com a ideia de ser feliz.

Conquista

Um olhar para a juventude esculpida em carne. 
Uma fila de senhores.
Uma queda de papel.
Um toque leve e tímido de mãos de menino.
Um beijo cítrico telepático. 

O sorriso tímido e quase inacabado. 
A ideia de uma.
O sonho de outro. 
As vontades dos poros.
O controle dos corpos.

A conquista entre crianças.
A falta de conhecimento.
O exagero de pessoas.
O encanto engavetado.

Relato

     Admito: A vida de uma mulher não é a coisa mais linda do mundo e tudo piora quando se é mulher e prostituta. Sim, isso mesmo, sou uma mulher e sou puta, dessas bem ordinárias, que derrubam grandes impérios, matam mulheres doídas e enlouquecem homens afortunados. Não sou muito de reclamar de minha vida. Gosto de meu trabalho, gosto de meus clientes e muitas vezes até chego ao orgasmo. 
    Já passei por muita coisa, fui de elite á lixão numa velocidade unica. Sou puta por prazer, por amor a profissão é claro, nada é divino, a principio você se sente um pedaço de carne surrado, mastigado e cuspido, mas depois tudo muda, você começa a sentir a satisfação de um insatisfeito, o prazer de um faminto o amor de um desconhecido e o ódio de uma esculhambada. 
    Nunca cogitei a ideia de ser uma pessoa fiel, bem vestida, aceita pelo mundo e calada pela sociedade. Sou uma bêbada torta, demente, bonita e vendida. Tenho em minha pele todos os pecados e prazeres da carne humana e pretendo morrer assim: Satisfazendo meus amantes e sorrindo para o ódio das desamadas.