10.6.13

Mares imensos

 
Afogo-me de desejo.
Desejos insanos e intensos.
Possíveis como mãos entre as pernas...

Dentes mordiscando seios.
É pouco, rasgar a carne e
assoprar por tudo que transpira...


Salivar todos os poros,
conhecer o mundo e se perder em sal.
Cravar o totem de carne que une céu e inferno...


Encontrar-se além de qualquer hemisfério,
ser momento, ser um só e não ser nada.
Ser nada, e ser fogo em chuva, luta de elementos no gozo do dia...


Dia que se satisfaz num guizo de corpos e formas,
chegando a um prazer tão intenso quanto um orgasmo.
Morrer pela beleza, acordar na crueza do desejo sem cura...


Sangrar para escrever o nome a ser
esquecido entre os fluidos do prazer.
Prazer de desgraçados andarilhos que caminham para a morte...


O faminto amor, fome dos séculos que um toque redime.
Tonteiras da carne, emissária e destino.
Cometendo carnificina, fazendo-se de desavisado...


Tocaia insana, devoradora de desavisados.
Sacia tua fome alimentando-se de pobres meninos
amargurados e mal amados...


E incautos senhores de vara em riste.
Ser todas as mulheres e dores, ser o esquecimento.
Guardado num resto de nada, a espera de algo tão breve quanto os efeitos do ópio...


Sem tempo para desculpas, culpas,
tão eterno quanto os efeitos do olhar amado.
Que se desfaz e se reconstrói num leve sopro de vento...


E tatua insanamente para sempre...
só agora, vem, me toma,
toma o que sou e devolve para o mundo a menina corrompida...


Sinta-se desflorada por minha angustia.
Atormente-se com meu tormento.
Ouça os maldizeres de minha alma impura


Tolices ditas, o vento já esqueceu por mim tua sina...
Mas o intento, ele, nos arrastará sem medo pelos
caminhos do conhecimento, dentro e fundo...


Além de constelações e mares.
Entranhas e sonhos, mistura fina de delícias.
Que de tão fina vira pó e perde-se na imensidão...


Poeira de estrelas, tudo acaba por poesia, mas ele,
o impetuoso e amoral amor,
acaba em poesia e ri de nossa tensa entrega...


Nossa história em versos alheios,
nosso estrago em linhas malditas,
nosso suposto amor perdido em letras, mostrando-se para mortais...


Escárnio nenhum corrompe o inteiro,
o inteiramente único momento em que nos estragamos ao outro
e já não somos, apenas queremos e temos...


Somos um amontoado de ideias loucas,
um bocado de pouca coisa, que se constrói para olhos loucos
e se despedaça para os pobres lúcidos...


Muito é pouco, confesso, professo o prazer,
ando tantã, burra, olhos abertos noite a dentro,
mas o gosto, o gosto da pele quente me despedaça em paz...


Transforma-me em guerra roída, mal acabada e quase perdida
Pedindo colo, vadia e morninha, dizendo,
sim senhor, sirva-se. Sirva-me!


(Maria Lucia Jeunehomme Borges e Leticia Borges)             




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