17.11.13

A Alquimista parte I

    Numa dessas noites de mormaço vejo-me meio torto, é claro; ser torto é algo comum para um homem feito às avessas. A é, esqueci de me apresentar: Meu nome é Pedro, Pedro Jasão Martins, sou um tanto quanto embriagado, porém não tenho vícios; bebo porque quero, não porque preciso, mas é claro: tudo fica mais digerível com bebidas e um pouco de pó. Acho que ainda não falei sobre as prostitutas, aquelas que são mais psicólogas do que putas. Noite passada estava com uma dessas, bonitinha até: Purpura, bêbada e com olheiras fundas. A pele da pequena moça era macia, com cheiro de cigarro e com gosto de cerveja, não me recordo do suposto nome dela, só me lembro de coisas importantes, como por exemplo oque ela me disse quando acordei:
-Olá rapaz, oque acha de tentar viver um pouco?  O mundo é grande, porém cabe em sua cama. Viver é triste e doente, mas às vezes encanta.
     Após ter dito isso, ela se virou de costas, abriu um pouco a janela e começou a fumar; acendia um cigarro na brasa do outro, acho que ela estava nervosa ou preocupada. Com uma mão segurava o cigarro, com a outra brincava com os cabelos coloridos, eu que não fumo senti vontade de fumar, só para sentir oque ela estava sentindo. A nicotina corroendo os dentes, o cheiro impregnando a pele, os olhos sonolentos e cara de satisfação por ser desprezível.
    Quando moço até tentei “aprender” a fumar, mas não deu muito certo, me engasguei com a fumaça e queimei meu próprio braço, depois disso até tentei fumar novamente, porém acho que nunca vou aprender. Talvez eu não saiba fumar por conta do desinteresse, acho que se eu tentasse fazer tal coisa em meus momentos de depressão, garanto que daria certo, pois o segredo de fumar é buscar satisfação e não brincar de ser vaidoso.
    Voltando a parte importante da coisa: A moça que fuma e brinca com os cabelos usava uns óculos engraçados, na ponta do nariz, ela reparava em tudo, nos carros que passavam na avenida, no pombo que aparentemente sentia fome e nas pequenas cicatrizes de meu braço. Muito educada ela nada falou, mas ficou encarando-as, como quem tenta decifrar o sentindo da vida, ela tentava decifrar o sentido de minhas marcas, aqueles olhinhos compridos de alquimista de poemas sugaram meu estupido eu. Mais que uma puta, uma alquimista, uma fumante; ela foi e é uma espécie de exorcista de corpos ateus, por instantes eu me senti sem “demônios”, sem dor e até mesmo sem vida.

2 comentários:

  1. Adorei!! Um dos melhores contos de sua autoria que já li!
    Muito bem Leticia! Você escreve muito bem, menina linda!
    Solos malditos que há de encantar gerações de leitores ^^
    Beijos..

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  2. Obrigada bonito. Acho que ele precisa de mais alguns pedaços, continuação sabe? rsrsrs...
    Bjo...

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