30.6.13

Sopro

O vento que passa por minha cidade
passa triste, porém forte.
Bate nos finos cabelos de moças desavisadas.
Levanta sais.
Esmurra cortinas.
Pede abrigo.
Sopra em um ouvido quente
todos devaneios e desamores do mundo.
Pede um pouco de paz.
Reclama de suas desgraças.
Um anjo torto de boca aberta fecha dizendo Amém.
Concordando assim com todas as palavras doentes
de um vento que por descuido resolveu nascer.



22.6.13

Egoísta

    O que de fato se busca na escrita? Amor, reconhecimento, paz ou qualquer outro paradigma. Costumo dizer que escrevo para não morrer., Para manter-me saudável., Para não sufocar.
Sim, palavras não ditas sufocam, podem até matar, é claro que não se pode andar por ai dizendo FODA-SE para qualquer suposto desgraçado. Se bem que nunca me importei em ser bom moço, sou até meio grosso. Um energúmeno estupido que raramente sente-se doído, talvez por conta do ópio e dos copos de whisky sem gelo. gosto desse amargo que desce quente por minha goela gasta e roída. De normal só oque tenho é gosto pelo sexo ou talvez nem isso. Trepo para compartilhar minha desgraça, a sensação de ser chupado por lábios desgovernados e famintos é algo único, poderia fazer um conto para cada boa chupada. Seria algo lambuzado, suave, cansado. Claro que gosto de outros orifícios, mas a boca realmente é de fato meu preferido. Raramente faço sexo comigo mesmo, mas quando faço costumo usar a mão esquerda fica uma coisa meio torta, descontrolada e insaciável. Não gosto muito do pós orgasmo, fico estirado, com os olhos virados e com um cigarro entre os dedos., Interpolando o descaso e o silêncio sempre surge aquela pergunta: Foi bom para você?  Lembro-me que só uma mulher em todos os anos disse-me realmente a verdade: "Não, você não passa de um puto cansado, se diz escritor mas mal consegue produzir um orgasmo." Confesso que a principio fiquei meio irritado mas ela tinha razão, eu raramente dou importância ao prazer alheio. Sou egoísta, trepo para mim e escrevo para mim. Jogo porra e letras ao vento e se por acaso agradar alguém, admito: Não foi por querer!


19.6.13

Poema ignóbil

Uma mecha de cabelo aliciando os olhos.
Talvez você seja isso.,
Uma mecha atrevida sem rumo.
Escapando do fino grampo de um jeito acavalado.
 
Não se contenta com os pedaços de lua 
que roubei de um pobre ateu.
Nem mesmo com os versos
que furtei do olhar de uma viúva.
 
Essa tua balda de sempre querer mais.
Suga de meu veneno, feito filhote de lacraia.
Não entende que amor um dia acaba?
 
Vira poema ignóbil.
Alimenta-se de outros lábios.
E perde-se em novos orgasmos.



14.6.13

Soneto de uma pouca idade

Com passo gastos caminho para o pó.
Um resto de vida.
Uma sobra.
Um filete de luz.
 
Sou dilacerada por números.
A cada aniversário,
uma dor.
 
Meu tormento, chega aos poucos.
Aprecia meu pouco EU
com olhos de fome
e lábios molhados.
 
Sou querida pelo fim.
Esperada pela terra.
Amada pela morte!


11.6.13

Nome no mel

Apreciando sua hipocrisia
faço-me de fina.
Contorço-me.
Engasgo.
Sinto teu mal
e teu pecado
atravessando meu pobre blues.
Tua voz chega a penetrar meus poros,
como um orgasmo mal calculado
que se espalha por todos os copos.
Sinto tua ironia, teu descaso.
-Que diabos eu vi nestes olhos alentados?
Penso em fazer demências:
Colocar teu nome sempiterno no mel.
Fazer amarração.
Maldizer algum Deus.
Mas não.,
Sei que é um menino livre.
Que faz o mundo de pipa
e meu pequeno coração de pião.


10.6.13

Mares imensos

 
Afogo-me de desejo.
Desejos insanos e intensos.
Possíveis como mãos entre as pernas...

Dentes mordiscando seios.
É pouco, rasgar a carne e
assoprar por tudo que transpira...


Salivar todos os poros,
conhecer o mundo e se perder em sal.
Cravar o totem de carne que une céu e inferno...


Encontrar-se além de qualquer hemisfério,
ser momento, ser um só e não ser nada.
Ser nada, e ser fogo em chuva, luta de elementos no gozo do dia...


Dia que se satisfaz num guizo de corpos e formas,
chegando a um prazer tão intenso quanto um orgasmo.
Morrer pela beleza, acordar na crueza do desejo sem cura...


Sangrar para escrever o nome a ser
esquecido entre os fluidos do prazer.
Prazer de desgraçados andarilhos que caminham para a morte...


O faminto amor, fome dos séculos que um toque redime.
Tonteiras da carne, emissária e destino.
Cometendo carnificina, fazendo-se de desavisado...


Tocaia insana, devoradora de desavisados.
Sacia tua fome alimentando-se de pobres meninos
amargurados e mal amados...


E incautos senhores de vara em riste.
Ser todas as mulheres e dores, ser o esquecimento.
Guardado num resto de nada, a espera de algo tão breve quanto os efeitos do ópio...


Sem tempo para desculpas, culpas,
tão eterno quanto os efeitos do olhar amado.
Que se desfaz e se reconstrói num leve sopro de vento...


E tatua insanamente para sempre...
só agora, vem, me toma,
toma o que sou e devolve para o mundo a menina corrompida...


Sinta-se desflorada por minha angustia.
Atormente-se com meu tormento.
Ouça os maldizeres de minha alma impura


Tolices ditas, o vento já esqueceu por mim tua sina...
Mas o intento, ele, nos arrastará sem medo pelos
caminhos do conhecimento, dentro e fundo...


Além de constelações e mares.
Entranhas e sonhos, mistura fina de delícias.
Que de tão fina vira pó e perde-se na imensidão...


Poeira de estrelas, tudo acaba por poesia, mas ele,
o impetuoso e amoral amor,
acaba em poesia e ri de nossa tensa entrega...


Nossa história em versos alheios,
nosso estrago em linhas malditas,
nosso suposto amor perdido em letras, mostrando-se para mortais...


Escárnio nenhum corrompe o inteiro,
o inteiramente único momento em que nos estragamos ao outro
e já não somos, apenas queremos e temos...


Somos um amontoado de ideias loucas,
um bocado de pouca coisa, que se constrói para olhos loucos
e se despedaça para os pobres lúcidos...


Muito é pouco, confesso, professo o prazer,
ando tantã, burra, olhos abertos noite a dentro,
mas o gosto, o gosto da pele quente me despedaça em paz...


Transforma-me em guerra roída, mal acabada e quase perdida
Pedindo colo, vadia e morninha, dizendo,
sim senhor, sirva-se. Sirva-me!


(Maria Lucia Jeunehomme Borges e Leticia Borges)             

5.6.13

Homem de trinta









Um homem de trinta não é só um homem.
É um menino,
Em ponta de abismo,
Querendo voar.
 
Com os olhos mareados.
O corpo salgado
E as ideias doentes,
Porém vivas e únicas!
 
Parabenizo-te com versetos.
E um sopro de beijo.
 

2.6.13

Insatisfação


Nenhum abraço me acalenta.
Nenhuma musica me acalma.

Nenhum cigarro me satisfaz.

Não me conformo com tanto.
Gosto do pouco.
Do ralo, do escasso.

Vivo de sobras.
Alimento-me de restos
de poemas amor.

Tenho o peito roídos.
As ideias doentes.
O corpo cansado.