10.6.14

Entre o costume e a demência

    Costumo comparar o cigarro ao beijo, afinal os dois são prazer e insatisfação ao mesmo tempo. Quem diabos se conforma em dar um único trago ou fumar apenas um cigarro? Com o beijo é mesma coisa, só largamos quando a “marca” não presta, quando o gosto é de bala ou quando nos acostumamos e caímos na rotina monótona do confortável. Desconfio de qualquer um que fume por tabela, sabe aquele que anda com fumantes e não fuma? Este mesmo, o chato que respira o prazer alheio. No mais; quem não fuma, não beija, quem não beija, não ama e quem não ama, morre de tédio.
     Sim, eu sou fumante, mas a questão aqui é o filtro e não o fogo. Digamos que eu seja uma mulher bonita, razoavelmente inteligente e um pouco atormentada por amores passados.  Por agora sou só mais uma, mas tenho um problema e não, não é depressão nem nada do tipo, acredito que vai além de qualquer demência, mas enfim; se para é contar que seja agora, lá vai: Sou uma mulher de sorriso largo, olhos grandes e amendoados capazes de devorar o mundo e também sou boazinha, mas boazinha demais, do tipo que não serve para namorar ou para qualquer coisa do gênero, a maioria dos meus envolvimentos amorosos se resumem no seguinte ciclo: Conhecer um moço que se diz em crise com ele, com o mundo e com uma moça que não apoia seu delírio cotidiano. Sorrir para ele, trocar ideias, fumaças e beijos. Fazer com que ele surte e tenha novas ideias a ponto de reconstruir-se, alimentar o EGO cru, levantar a cabeça e sair para satisfazer-se e supostamente satisfazer alguém do sexo oposto.
      O problema não é ir; O problema é ir, passar tempos e depois voltar de chapéu na mão, sentimentos roídos e sobrancelhas pela metade. Como eu disse anteriormente: É um ciclo, ciclo de merda, mas ainda sim um ciclo, coisa que meu exagero de sorriso e bons sentimentos permitem. Acho tudo válido, seja um café, um corpo frio, uma noite, um dia, um amor ou uma aventura. Antes eu valorizava mais os momentos, hoje simplesmente eu os considero como apenas algumas horas, que na maioria das vezes são perdidas. Já amei, já me apaixonei, já enlouqueci. Como disse; já fui atordoada por acreditar demais. Hoje não acredito em nada, só vivo e vivo praticando o que me faz bem, seja lá quais consequências virão depois. O fato de eu sempre me foder não significa que preciso parar de viver em sociedade, significa apenas que preciso viver sem esperar muito do amanhã. Hoje para mim, o amor é como tomar um café gelado pela manhã. Quando você o faz ainda está quente, mas com o tempo vai ficando frio, gelado, e finalmente esquecido.
       Hoje me orgulho de ter cartas na manga, alguns corpos a disposição de uso, um copo de whisky na mão e boa música já é o suficiente para mim. Quando digo corpos, refiro-me a pessoas descartáveis, dessas sem conteúdo que sabemos que só querem o mesmo que você: sexo. As prefiro, afinal já pastei demais esperando alguém digno de meu caráter, o melhor a fazer é me divertir, aproveitar, trocar experiências e nada, além disso. É como praticar necrofilia, aliás, prefiro dizer que sofro de Catalepsia patológica, porém constante.
      Certo dia um moço formoso disse-me que estava apaixonado, falava-me frases bonitas, fazia-me elogios estonteantes, depois de sentir que ganhou pontos comigo, começou a interrogar sobre meus gostos sexuais. Esse tipo de "convencimento pela auto certeza" é bastante utilizada pelos homens para intrigar a mulher, aguçar a curiosidade e depois dar o "checkmate"... Estou cansada de saber desses truques masculinos. E não sou desse tipo de mulher que costuma acreditar e somente soltar um "Tudo em sua hora", pois bem, quem espera as circunstâncias, acabará nunca fazendo nada. Essa técnica já é bem manjada pelos "Donjuanistas", porém eu não caio mais nessa. Prefiro que sejam diretos ao assunto. Um simples “quero te foder” é muito mais válido do que iludir, cozinhar, comer,  depois defecar e dar a descarga como se nada tivesse acontecido. Ambos dão certo, porém no resultado final ninguém sai cagado e sim ambos satisfeitos com consciência limpa, mas não vou negar; ainda me envolvo com aquele que foi o primeiro e até com o segundo e às vezes com o terceiro... Sinto-me emocionalmente forte e acredito que posso compartilhar dessa força com qualquer pobre diabo renegado que de tão mal feito, não possui asas. Tenho-os por estupida amizade e o mundo: brinquedo barato para minha pútrida vaidade. 

(De Bia Quadrelli e Leticia Borges)

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